“A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra, a Era do Petróleo terminará muito antes que o petróleo acabe.” A instigante frase poderia ser entendida como utópica se tivesse sido proferida por militantes ambientalistas, mas foi dita pelo xeque Ahmed Zaki Yamani, ministro da Arábia Saudita que ganhou notoriedade global durante a crise do petróleo, em 1973 — tinha, portanto, doses de ironia. Naquela passagem histórica, as nações que compunham a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (Opep), lideradas por Yamani, decidiram proclamar um embargo de vendas para os Estados Unidos, como boicote contra o apoio dos americanos a Israel, na Guerra do Yom Kippur. O resultado: o preço do barril saltou de 3 para 12 dólares (hoje está na casa dos 60 dólares), atalho para décadas de riqueza do Oriente Médio e permanente poder de cartelização.
De ternos elegantes e cavanhaque sempre muito bem desenhado, o xeque rapidamente se transformou em uma das mais conhecidas personalidades do mundo árabe — a ponto de uma montadora de carros ter tentado chamar um de seus modelos de Yamani. Circulava pela Europa com a desenvoltura de um rei. Em 1975, posto na ribalta global, respeitado e temido, ele seria sequestrado em Viena pelo grupo do terrorista de linha marxista-leninista Carlos, o “Chacal”, junto com outros líderes petroleiros, em nome de direitos para a Palestina. Depois de longas rodadas de negociações, foi solto em troca de valores nunca relevados. Yamani morreu em 23 de fevereiro, aos 90 anos, em decorrência de problemas cardíacos.
O guia espiritual dos beatniks
Sem o pintor, poeta e editor americano Lawrence Ferlinghetti, a geração beatnik de Jack Kerouac (Pé na Estrada, de 1957) talvez não existisse e certamente não teria onde se encontrar. Ferlinghetti fundou, em 1953, a City Lights Bookseller & Publishers, uma adorável livraria no bairro um tantinho chique, mas permanentemente decadente de North Beach, em São Francisco, na Califórnia. A City Lights, “ponto de encontro literário”, como sempre se definiu, foi palco e motor de uma revolução nas letras e no comportamento, ao lançar livros como Uivo, coletânea de poemas de Allen Ginsberg, e boa parte das criações de Kerouac. Ferlinghetti morreu aos 101 anos, em sua casa de São Francisco, de problemas pulmonares.
O criador do touro de Wall Street
Aquela segunda-feira, 19 de outubro de 1987, foi de matar do coração, com uma avalanche de quebradeira na Bolsa de Valores de Nova York — o índice Dow Jones ruiu 23% do dia para a noite. Dois anos depois, com a montanha-russa já controlada e a economia americana mais calma, um artista italiano decidiu expor na rua símbolo do mercado financeiro uma obra em homenagem ao espírito empreendedor dos Estados Unidos. A partir de então, o Touro Indomável, esculpido por Arturo Di Modica em 3 toneladas de bronze, virou ícone. O touro, no jargão das finanças, representa a força do mercado e é utilizado como marca quando os negócios estão em alta e as ações em ascendência. Seu antípoda é o urso, ícone de derretimento, devorador de lucros. Di Modica morreu em 21 de fevereiro, aos 80 anos, de causas não reveladas pela família, em Vittoria, na Itália, sua cidade natal — ele dizia ter chegado aos Estados Unidos sem “um tostão”.
Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727