O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso insistiu quanto foi possível: queria Luciano Huck concorrendo ao Palácio do Planalto porque, no fundo, não acreditava nas chances do tucano Geraldo Alckmin (veja nota de Radar). O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, ele próprio um postulante à candidatura presidencial, diz que a aposta de FHC consistia num “despautério”, como descreve em artigo nesta edição. Tudo em vão. Na quinta-feira 15, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, informou que o apresentador estava fora da corrida presidencial em definitivo. Sua declaração oficial estava prevista para sexta-feira. Na verdade, o anúncio da desistência tinha sido feito no fim de novembro passado. Mas, como os candidatos situados no centro do espectro político não decolaram nas pesquisas, a pressão voltou. E voltou forte. Tanto que Huck esteve em dúvida sobre o que fazer até o último momento.
Na tarde de quinta, confirmando de vez sua desistência, Huck declarou: “Fui coerente com o que havia me comprometido publicamente, que não seria candidato, mas que participaria ativamente do tão necessário processo de renovação política no Brasil. E assim o farei. Aprendi muito nestes últimos meses, escutei ideias de cabeças brilhantes, formei opinião sobre os caminhos que podem levar o Brasil a ser um país mais justo e eficiente. E a jornada pela frente ainda é longa”, disse o apresentador. Vale lembrar: o registro das candidaturas pode ser feito até o dia 7 de abril.
A pressão da Rede Globo, onde trabalha desde 1999, foi decisiva. Huck queria ter mais tempo para definir-se, mas a emissora vinha pedindo uma resposta quanto antes. Nas conversas internas, Huck quis saber se poderia voltar à empresa caso ocorresse uma derrota eleitoral, mas o que ouviu da Globo foi desanimador. Ela decidiu que, se houvesse uma candidatura presidencial, não apenas Huck, mas também sua mulher, a apresentadora Angélica, teria de deixar a emissora. E, se fosse derrotado, ele não poderia voltar à tevê. Junto, o casal domina mais de três horas semanais de programação — uma abastada fonte de renda que secaria para sempre.
Com um desempenho máximo de 8% nas pesquisas eleitorais, Huck nunca pensou em ser candidato a qualquer cargo que não fosse o de presidente da República. Os tucanos chegaram a discutir com o apresentador a possibilidade de ele disputar o governo do Rio de Janeiro. Huck não quis, e também nunca se interessou em ser candidato a vice-presidente na chapa de outro político.
O beneficiário imediato da desistência de Huck é o tucano Geraldo Alckmin. Com os mesmos 8% nas pesquisas, Alckmin temia que sua pré-candidatura pudesse ser precocemente esvaziada pelo lançamento de Huck. A própria dúvida do apresentador vinha sendo uma espada na cabeça do governador, fracionando seu apoio entre os tucanos. “Agora não tem mais essa história de outsider. Teve o Doria, o Huck e agora voltamos a um quadro mais real”, diz o deputado Silvio Torres, do PSDB paulista, um dos principais aliados do governador.
Outro possível beneficiário da desistência de Huck é o deputado Jair Bolsonaro, do PSC, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. “Huck era o único nome que podia disputar duas características que Bolsonaro faz questão de vender: o fato de ser um personagem e de ser um outsider da política”, diz o cientista político Mauricio Moura, da consultoria Ideia Big Data.
Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2018, edição nº 2570