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Ele serve até fake news

Chef de cozinha preferido de Vladimir Putin, dono de empresas de internet e de mercenários, é acusado de usar redes sociais para ajudar na eleição de Trump

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h56 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00
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  • “Se toda essa interferência russa aconteceu durante a administração Obama (…), por que não está sendo investigada? Por que Obama não fez nada a respeito? Por que os crimes dos democratas não são investigados? Pergunte a Jeff Sessions!”, tuitou o presidente americano Donald Trump na quarta-feira 21. O comentário na rede social contém três traços clássicos do estilo Trump de ser: o uso de meias verdades para desviar a atenção de fatos que o atingem; a obsessão em se comparar com o seu antecessor, o ex-presidente Barack Obama; e o despudor em atacar publicamente até membros do próprio gabinete, no caso o seu secretário de Justiça, Jeff Sessions, para tirar a própria responsabilidade da reta. Mas qual o motivo da indignação presidencial?

    Trump estava reagindo (ainda) ao indiciamento, anunciado cinco dias antes pelo procurador especial Robert Mueller, de três empresas e treze cidadãos russos por usarem as redes sociais on-line para sabotar a confiança na democracia e interferir nas eleições americanas de 2016. A força-tarefa comandada por Mueller tem a missão de descobrir se a equipe de campanha de Trump, quiçá o próprio Trump, atuou em conluio com os russos para favorecer o candidato e prejudicar a adversária, a democrata Hillary Clinton. O indiciamento feito no dia 16 não apresenta essa conclusão, mas a investigação está longe do fim. O documento de 37 páginas divulgado por Mueller tem pelo menos um efeito político imediato sobre o presidente. “Agora, tornou-se impossível para Trump declarar que as reclamações sobre interferência russa nas eleições americanas são apenas rumores ou que são motivadas politicamente”, diz o cientista político John Carey, da Universidade Dartmouth, em New Hampshire.

    Os treze indivíduos citados na acusação formal feita por Mueller provavelmente jamais serão levados a julgamento nos Estados Unidos. O principal deles, Yevgeniy Prigozhin, deu de ombros e declarou à agência de notícias estatal russa: “Os americanos são um povo muito impressionável. Se eles querem ver o diabo, deixe que o vejam”. Prigozhin sabe do que está falando. Ele foi indiciado justamente por comandar e financiar uma empresa com sede em São Petersburgo que desde 2014 (daí a referência a Obama no tuíte de Trump) se dedica a criar perfis falsos nas redes sociais, em especial no Facebook, para provocar discórdia e direcionar o debate político dentro e fora da Rússia. A empresa, Agência de Pesquisa de Internet, é o que se chama no meio especializado de “fábrica de trolls”. Durante a campanha presidencial nos Estados Unidos, seus funcionários chegaram a roubar a identidade de americanos reais para pagar anúncios no Facebook com notícias falsas, as chamadas fake news, que levassem os eleitores a apoiar Trump.

    Prigozhin é um leal servidor do presidente russo. Dono de restaurantes caros que Vladimir Putin frequenta há mais de vinte anos, ele se tornou bilionário graças a contratos com o Estado para o fornecimento de merenda escolar e ração militar. Hoje em dia, além de praticar a trolagem virtual, ele atua em negócios petrolíferos e é dono de uma empresa de mercenários que defendem os interesses russos nas guerras civis da Ucrânia e da Síria. Pelo visto, Trump também foi bem servido por Prigozhin.

    Com reportagem de Thais Navarro

    Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2018, edição nº 2571

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