Dom Odilo Scherer fez críticas ao caráter político do ato ecumênico realizado no sábado 7 e disse que se tratava de “iniciativa pessoal” dos participantes, sem o aval da Arquidiocese de São Paulo ou da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O que tem a dizer? Muitos têm me atacado e xingado, outros têm sido solidários. Eu continuo com a minha missão. Primeiro, o que fiz não foi missa. Quem chamou de missa ou não entende ou não estava lá. Segundo, não foi um ato político. Se rezar pela paz e proclamar a palavra de Cristo é um ato político, então eu não sei de mais nada. Falei sobre o amor fraterno e rezei a Oração de São Francisco. Não ligo para as críticas. Ora, tenha paciência!
O senhor tem partido? Não tenho partido, não sou comunista, nem petista, nem esquerdista. As pessoas me chamam de comunista por causa dos meus amigos, mas não sou. Sou amigo do Lula e de sua família desde antes de ele ser político.
Como o senhor recebeu o convite para celebrar o ato ecumênico em homenagem a dona Marisa? O convite partiu da família do Lula. Era para ser dentro do sindicato, mas decidiram fazer fora devido ao volume de pessoas. Esse ato havia sido marcado antes da decretação da prisão. Participaram também pastores luteranos e evangélicos.
Como foi o encontro com Lula no sábado? Ele estava tranquilo e sereno. Recomendei-lhe calma e também que cuidasse da saúde. Disse que eles podem prender o corpo, mas as ideias e o coração devem estar livres. Dei um abraço apertado, e pronto. Não sou juiz para falar se o julgamento dele está certo ou errado. O último julgamento quem fará é Deus. Ele, sim, o condenará ou o absolverá.
Como é sua relação com ele? A gente conversa sobre o mundo, a situação política, o envolvimento e o sofrimento da Marisa e as esperanças que ele tem — e são muitas. Em fevereiro, fui ao apartamento dele em São Bernardo. Tivemos um almoço simples. Comi salada, arroz e frango grelhado. Nada de vinhos. Bebi água.
Por falar nisso, comentou-se muito sobre a garrafa que Lula tinha nas mãos durante o discurso. O que ele bebia, afinal? Aqueles que acham que era bebida alcoólica deveriam analisar o discurso que ele fez e ver se era a fala de um homem que estava com álcool na cabeça.
Publicado em VEJA de 18 de abril de 2018, edição nº 2578