O diálogo parecia banal, como se tivesse sido ouvido numa manhã feliz, em um canto qualquer dos Estados Unidos, na véspera da noite de Natal. “Meu Deus! Olha aquela foto, é a Terra chegando. Uau, isso é lindo”, disse o astronauta William Anders, a bordo da Apollo 8. “Ei, não tire a foto, não está programado”, retrucou o colega Frank Borman. “Você tem um filme colorido, Jim? Me passa esse rolo…”, prosseguiu Anders. “Cara, isso é ótimo”, respondeu Jim Lovell. Aquele registro, de 24 de dezembro de 1968, antes, portanto, de o ser humano pôr os pés na Lua, é a mais conhecida imagem do nosso planeta visto do espaço.
Batizada de Earthrise, o “Nascer da Terra”, rapidamente virou símbolo de nossa fragilidade no espaço, da necessidade de defendermos a fauna e a flora aqui embaixo. A imagem deflagrou os primeiros passos do movimento ambientalista, até então relegado a segundo plano. Durante muitos anos, o retrato foi atribuído a Borman, falecido em dezembro do ano passado. Anos depois da travessia em órbita, Anders diria: “Tivemos de ir até a Lua para descobrir a Terra”. Ele morreu em 7 de junho, aos 90 anos, em um acidente aéreo. Pilotava seu avião particular, um Beech A45, que caiu no estado de Washington.
A economia à esquerda
Em 2010, durante a campanha presidencial, os candidatos Dilma Rousseff, do PT, e José Serra, do PSDB, fizeram uma rápida trégua, interromperam as diatribes e apareceram ao lado de Maria da Conceição Tavares em seu aniversário de 80 anos. O gesto indicava a relevância da economista, que fora professora de ambos na Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Nascida em Portugal, de onde viria com a família, fugida da ditadura de António Salazar, ao começar seus estudos rapidamente enveredou pela ideia do desenvolvimentismo, o crescimento alimentado pela intervenção permanente do Estado. Virou ícone dos partidos de esquerda e, recentemente, teve algumas de suas frases viralizadas nas redes sociais, dado o comportamento mercurial, sempre incisivo — “ninguém come PIB, come alimentos”, disse certa vez. De 1995 a 1999, ela foi deputada federal pelo PT. A postura enérgica, contudo, nunca a afastou de quem pensava diferente dela — como régua a medir as discussões democráticas, sem a polarização de hoje. Morreu em 8 de junho, aos 94 anos, em Nova Friburgo.
Alegre melancolia
Na Inglaterra, e rapidamente nos Estados Unidos, o iê-iê-iê dos Beatles reinventou a civilização ocidental. Na França, a voz pequena e doce de Françoise Hardy explodiu no início dos anos 1960 com outra pegada: a discrição, a elegância em preto e branco, a mistura improvável de joie de vivre com melancolia. “Todos os meninos e meninas da minha idade sabem bem o que é ser feliz”, cantou em seu maior clássico, a balada Tous les Garçons et les Filles, de 1962. Françoise morreu em 11 de junho, aos 80 anos. Desde 2021 tratava um câncer na faringe.
Publicado em VEJA de 14 de junho de 2024, edição nº 2897