Algumas semanas atrás, o tenista Novak Djokovic já criara desconforto, e recebera uma saraivada de críticas, ao dizer que se recusaria a tomar a vacina contra a Covid-19, caso houvesse algum imunizante eficaz. As coisas parecem ter piorado para ele. O número 1 do mundo abriu para o público um torneio de exibição em sua cidade natal, Belgrado, na Sérvia. O.k., havia boa motivação: os tenistas participantes não receberam um centavo para jogar e toda a renda dos ingressos, patrocinadores e televisão foi revertida para obras humanitárias. Pegou mal, porém. Além de celebrar a aglomeração de pessoas nas arquibancadas (a maioria sem máscara), Djokovic distribuiu abraços e tirou fotos com sorriso no rosto. Para comemorar o “sucesso” da empreitada, levou os colegas de raquete a uma balada que varou a madrugada.
Na segunda-feira 22, a conta da insensatez chegou vergonhosamente: além do próprio Djokovic, sua mulher, seu preparador físico e outros três tenistas que participaram da brincadeira fora de hora foram diagnosticados com o novo coronavírus. A disputa amistosa, que circularia também pela Croácia e Bósnia, foi suspensa. E ecoou, amarga e tristemente, um comentário tolo e constrangedor do campeão antes do início da competição beneficente: “Você pode nos criticar e dizer que isso talvez seja perigoso, mas não cabe a mim fazer juízo de valor e dizer se é certo ou errado para a saúde”. Depois da tremenda bobagem, restou ao sérvio, brincalhão por natureza, se exilar em sua casa no principado de Mônaco e aguentar os apelidos jocosos e um tanto agressivos de “Djocovid” e “Covidiota”. Mereceu.
O cineasta dos excessos
A trajetória no cinema do diretor nova-iorquino Joel Schumacher faz jus a sua história de vida. Antes de chamar atenção, nos anos 1980, com filmes estilizados, marcados por altos e baixos, ele viveu uma montanha-russa particular de emoções. Perdeu o pai aos 4 anos de idade e começou a beber aos 9. Na adolescência, descobriu o LSD e a metanfetamina. Os vícios cobraram seu preço: endividado e com a saúde debilitada, ele decidiu parar com tudo e se dedicar à moda. A porta de entrada para o cinema veio na função de figurinista. Mostrou que tinha talento para a direção com o filme cult de vampiros Os Garotos Perdidos (1987), e recebeu aplausos com longas intensos, como Um Dia de Fúria (1993) e Por um Fio (2002). Foi também massacrado pela crítica por bobagens como 8mm: Oito Milímetros (1999). A fama mundial veio com dois filmes do Batman, na fase mais colorida e controversa do Homem-Morcego: vivido por George Clooney, o herói ganhou mamilos na roupa que marcavam seu peitoral, alusão a uma possível bissexualidade do personagem. Joel Schumacher morreu na segunda-feira 22, aos 80 anos, de câncer, em Nova York.
Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693