Eis o ponto a que chegamos: um ministro de Estado aparece discutindo o pagamento de uma propina numa gravação — e o que acontece? Nada. Ou melhor: o ministro tira uma folga de cinco dias do trabalho. O ministro é o pastor Marcos Pereira, titular do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Seu chefe, o presidente Michel Temer, acolheu seu pedido de cinco dias de folga e não disse nada sobre a gravação da propina.
A conversa foi revelada pelo site de VEJA na semana passada. Nela, o empresário Joesley Batista, que já andava gravando seus interlocutores para fechar seu acordo de delação, puxa conversa com o ministro. Como falavam do pagamento da última parcela de uma propina de 6 milhões de reais, Joesley se faz de desmemoriado e diz: “Eu não lembro mais a conta”. O ministro responde em seguida: “Meia, cinco, zero”. A conversa gravada aconteceu em março, quando Pereira já era ministro.
Em seu acordo de delação, Joesley confirmou que pagava propina ao ministro pelos serviços prestados na concessão de um financiamento de 2,7 bilhões de reais da Caixa Econômica Federal. Pereira, que é pastor da Igreja Universal, está sendo investigado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Em nota, o ministro informou que não comentaria “pretensas gravações ilícitas”. Sobre os 6 milhões, não disse palavra.
Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2017, edição nº 2552