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Carta ao Leitor: A serviço da verdade

Quando combatem o jornalismo profissional sério, os Bolsonaro e seus seguidores, reais ou virtuais, se lançam contra a própria democracia

Por Da Redação Atualizado em 14 fev 2020, 10h09 - Publicado em 13 fev 2020, 19h51

Examinada com rigor, a expressão fake news arrasta consigo uma contradição insolúvel. Não há dúvida de que qualquer substantivo possa ser associado a qualquer adjetivo. Do ponto de vista gramatical, no entanto, um adjetivo “modifica” o substantivo — e nisso reside o paradoxo mencionado anteriormente. Ao ser alterado pelo adjetivo fake (falsa, em inglês), o substantivo news (notícia) perde sua própria natureza. Para o jornalismo que mereça esse nome, notícia tem de ser sempre verdadeira, ou não poderá ser chamada assim. Dito de outra forma: a verdade está na essência da imprensa.

Seria mais do que esperado que, ao menos em um país democrático, todos os poderes se pautassem pelo mesmo princípio. Infelizmente, nem sempre isso ocorre no Brasil. Tome-se, por exemplo, o governo e seus aliados. No rastro de Donald Trump — que popularizou o termo fake news ao classificar desse modo tudo o que seja divulgado por órgãos jornalísticos que lhe desagrade —, o Executivo brasileiro e seu entorno se mantêm em luta aberta contra a imprensa que consideram “inimiga”. Trata-se de uma plataforma política. Jair Bolsonaro não se cansa de ofender veículos e jornalistas. O motivo é simples: o horror à verdade.

Foi das hostes governistas, mais exatamente da família presidencial, que partiu uma nova demonstração de apreço à mentira. Em seu depoimento à CPMI das Fake News, Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da Yacows, uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, desfiou uma série de inverdades e insultou uma repórter da Folha de S.Paulo. Hans declarou que ela se insinuara sexualmente a fim de obter informações para uma reportagem sobre fraudes no envio de mensagens da campanha de 2018. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-­SP), filho do presidente, fez questão de divulgar as ofensas no Congresso e nas redes sociais. “Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”, disse ele. “O jornal está publicando documentos que mais uma vez comprovam a correção das reportagens sobre o uso ilegal de disparos de redes sociais na campanha de 2018”, reagiu a Folha em nota.

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Quando combatem o jornalismo profissional sério, os Bolsonaro e seus seguidores, reais ou virtuais, se lançam contra a própria democracia. É uma guerra perdida. Cultivar fake news, tentando dizer que são elas a matéria-prima da imprensa, é uma estratégia de poder inútil. A credibilidade dos órgãos de comunicação se baseia justamente na verdade. É ela a bússola, o objetivo, a razão de ser de veículos como VEJA — doa a quem doer.

Publicado em VEJA de 19 de fevereiro de 2020, edição nº 2674

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