O dólar mais caro é uma realidade que veio para ficar. Pela primeira vez em mais de dois anos, a cotação da moeda dos Estados Unidos superou a casa dos 3,70 reais. Em janeiro, estava em 3,15 reais. Má notícia para os brasileiros com viagens marcadas para o exterior e para quem depende de importações. O fenômeno, no entanto, vai muito além das nossas fronteiras. Tem raízes no intenso crescimento da economia americana, que pressiona a inflação por lá. Para combater a alta dos preços, o Fed, o banco central americano, decidiu subir os juros em ritmo mais acelerado que o previsto. E isso se reflete no aumento do rendimento dos títulos da dívida dos Estados Unidos, que são considerados os mais seguros do mundo.
É um revés e tanto para os países emergentes. Investidores estão saindo desses mercados para aplicar nos títulos americanos. Entre as moedas que mais perderam valor neste ano em relação ao dólar, o real só ficou atrás do peso argentino e da lira turca (veja o gráfico abaixo). No país vizinho, os efeitos mais agudos são explicados pela vulnerabilidade da economia.
No Brasil, a alta do dólar também tem explicações domésticas. Uma delas deriva de um dado positivo, a forte redução da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central. Investidores que aplicavam no Brasil em busca de retornos mais elevados passaram a ter um ganho menor. Na última quarta, o BC decidiu manter a Selic em 6,5%, o seu menor nível histórico, interrompendo uma sequência de cortes. A expectativa no mercado era por uma nova redução, mas o banco passou um sinal de que está atento às mudanças no cenário. As incertezas sobre a condução da economia pelo futuro presidente também explicam a valorização do dólar, que acaba sendo um ativo para quem busca proteção financeira.
No passado recente, a alta expressiva da moeda americana causaria temores inflacionários, por causa de seu impacto sobre os preços de produtos importados. Mas desta vez parece ser diferente. A inflação no Brasil está abaixo dos 3% ao ano e reflete a fraqueza da atividade econômica. “O crédito continua caro, e isso afeta a recuperação”, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. O câmbio desvalorizado, no entanto, faz crescer a dívida contraída por empresas no exterior, o que amplia as incertezas sobre o mercado interno. Trata-se, portanto, de mais um risco para a recuperação de uma economia que ainda cambaleia.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583