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Alívio, mas nem tanto

Inflação é a menor em duas décadas, mas a sensação de preço baixo não chega à classe média. A culpa é da alta de despesas em serviços como saúde e educação

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2018, 15h54 - Publicado em 19 jan 2018, 06h00
(Arte/VEJA)

As perspectivas de reequilíbrio das finanças públicas não são encorajadoras. A reforma da Previdência parece um plano cada vez mais distante, e isso serviu como gatilho para o novo rebaixamento da nota de crédito do país, pela agência Standard & Poor’s. Mas, como alento, existem sinais sólidos de retomada do crescimento. Outra boa notícia foi a queda na inflação, que beneficiou sobretudo os mais pobres. O índice geral de reajustes ficou em 2,95% em 2017. Trata-se da menor taxa desde 1998. Muitos brasileiros, porém, questionam como é possível uma taxa tão baixa (para os padrões do Brasil) com tantos reajustes de preços, principalmente em serviços como planos de saúde e mensalidades escolares, além de combustíveis. Na verdade, todos estão certos: os consumidores que reclamam e os estatísticos oficiais que noticiam inflação baixa. “A inflação de cada pessoa ou família depende de seus hábitos de consumo e do nível de renda. Há vários fatores que influenciam a forma como nós percebemos a inflação”, diz André Braz, coordenador de índice de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE leva em conta o orçamento de famílias que ganham entre um e quarenta salários mínimos. É uma média tirada com base em um amplo espectro. Nessa família imaginária, os gastos com alimentação e bebida representam quase um quarto do orçamento mensal. Quanto menor a renda, maior o peso das despesas com comida; na outra ponta, brasileiros com salários mais altos gastam menos, em termos proporcionais, com alimentação e costumam desembolsar mais com educação, saúde e lazer. Um cálculo do Ipea dá a dimensão do impacto distinto: a inflação das famílias cuja renda mensal é inferior a 900 reais ficou em 2,2% em 2017, abaixo portanto do índice geral, de 2,95%. Para as famílias com renda superior a 9 000 reais, a variação chegou a 3,7%, bem acima do índice geral.

Famílias com crianças em idade escolar são diretamente afetadas pelo reajuste das mensalidades nas escolas. Para os idosos, reajustes de planos de saúde e medicamentos consomem boa parcela do orçamento. Como serviços médicos e de educação subiram bem acima da inflação média no ano passado, o aumento atingiu em cheio a classe média. Os planos de saúde individuais, com 8,2 milhões de usuários, sofreram um reajuste de 13,5% autorizado pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Essa é uma tendência que vem de alguns anos: de 2012 a 2017, a alta chegou a 85%, quase o dobro da inflação geral do período, de 44%.

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A incorporação de novos tratamentos e medicamentos no rol de coberturas obrigatórias e o aumento do número de exames requeridos pesam para as operadoras, o que acaba sendo repassado para as mensalidades. “São reajustes aquém daquilo que julgamos adequado para cobrir o aumento de gastos”, diz Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). O indicador de custos médico-hospitalares, que serve de referência para o setor, teve variação de 20,4% em 2016.

SÓ ENCARECE – Sala para análise de exames médicos: alta de 13,5% dos planos de saúde (Fabiano Accorsi/VEJA)

Saúde é apenas uma fonte de pressão no orçamento da classe média. O custo da educação teve um reajuste médio de 7,1% no ano passado. Alguns preços administrados, que dependem de aval do governo, também subiram fortemente: a tarifa de energia elétrica residencial e o valor da gasolina ficaram 10,3% mais altos. No primeiro caso, o reajuste foi explicado pela falta de chuvas onde estão as maiores usinas hidrelétricas; já o combustível subiu acompanhando a alta do preço do barril de petróleo no mercado internacional.

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O cenário geral para os preços permanece benigno nos próximos meses. O Banco Central deverá reduzir novamente a taxa básica de juros, a Selic, na reunião de fevereiro. Olhando mais à frente, porém, focos de pressões inflacionárias voltarão a aparecer. “O aumento no número de pessoas empregadas e a recuperação dos rendimentos são fatores que deverão levar a remarcações de preços no futuro”, diz Marcio Milan, economista da consultoria Tendências. Para que os brasileiros possam se beneficiar de forma mais homogênea dos preços estáveis, será preciso que o governo faça os ajustes necessários para reduzir o custo Brasil e abrir a economia à concorrência. O alívio nas remarcações foi uma boa notícia de 2017, mas terá vida curta sem uma nova rodada de reformas.

Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2018, edição nº 2566

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