A Assembleia Nacional cubana aprovou, no domingo 22, uma nova Constituição. Sem nenhuma surpresa, o texto, que depende de um referendo para entrar em vigor, é uma tentativa do regime de perpetuar-se, como fazem todos os regimes. O primeiro passo para a mudança deu-se em abril, quando Raúl Castro transferiu a Presidência para Miguel Díaz-Canel, o primeiro civil no cargo em quase seis décadas de ditadura. A nova Carta Magna reconhece a união civil de homossexuais e recria o posto de primeiro-ministro, extinto em 1976. A palavra “comunismo” foi trocada por “socialismo” e a propriedade privada, já existente em formas rudimentares desde 2011, passou a ser reconhecida.
O objetivo da iniciativa é convencer investidores estrangeiros a injetar dólares na economia e, assim, aliviar a penúria local, que se agudizou desde o colapso da União Soviética, em 1991. Nos anos 2000, o patrocínio soviético foi substituído pelos petrodólares de Hugo Chávez, que, no entanto, pararam de chegar com o colapso da economia venezuelana. A nova Constituição, porém, não contempla nenhuma abertura política. Em certo sentido, Cuba está fazendo uma tentativa de substituir seu passado soviético por um futuro chinês — no qual a ditadura se mantém, sob a hegemonia de um partido comunista, mas os negócios podem ser feitos à luz do dia.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593