Foi uma decisão histórica — longe, contudo, de representar um cisma no catolicismo. Na segunda-feira 18, o Vaticano anunciou o direito de os padres católicos concederem a bênção a casais formados por pessoas do mesmo sexo. Foi um modo de o papa Francisco aproximar a Igreja Católica do público LGBTQIA+. O documento, intitulado Fiducia supplicans, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o antigo Santo Ofício. Não se trata, contudo, de passo rumo ao casamento católico gay. Segundo o documento, “seguem inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre o que é constitutivo do matrimônio e o que o contradiz”. Mas é um avanço louvável, sinônimo de acolhimento, no avesso da exclusão. Disse o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério, há muitos anos ghostwriter do pontífice e agora responsável pelas questões doutrinárias: “É uma reflexão teológica baseada na visão pastoral do papa Francisco”. Trata-se, enfim, de um gesto para atrair novos rebanhos, um movimento de modernização, embora nunca um anátema.
Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873