Os youtubers alvos de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal nesta terça-feira, 16, são frequentadores assíduos de manifestações bolsonaristas, das entrevistas coletivas no cercadinho do Palácio da Alvorada onde Jair Bolsonaro encontra apoiadores e fala a jornalistas e até em agendas oficiais do presidente da República.
Um dos alvos, por exemplo, o youtuber Emerson Teixeira, mais conhecido como “Professor Opressor”, era um dos manifestantes mais empolgados com a presença do ministro da Educação, Abraham Weintraub no ato do domingo 13, em Brasília. Tratado como “mito”, o ministro correspondia ao afeto dos “fãs”, chamando-os de “heróis”. “O Brasil está sendo destaque na luta contra esse movimento global e vocês são a linha de frente”, diz Weintraub em vídeo gravado por Teixeira. O youtuber, então, puxa um grito de “o ministro mais querido do Brasil”.
Alvo de críticas da ala militar e política, Weintraub está na corda bamba no ministério e vem tentando ganhar respaldo da ala mais ideológica do governo para se manter no posto. A sua ida ao ato irritou Bolsonaro, mas mobilizou os apoiadores mais radiciais do presidente – Teixeira é conhecido por ir ao Alvorada para xingar jornalistas de “abutres” e “canalhas”. No fim de março, durante uma coletiva, Bolsonaro chegou a pedir aos jornalistas para que ficassem quietos para ouvir as críticas do youtuber à imprensa. “É ele que vai falar, não ‘é’ vocês não”, disse o presidente, na ocasião.
Os outros alvos youtubers são Alberto Silva, do canal Giro de Notícias, Fernando Lisboa, do canal Vlog do Lisboa, e Adilson Dini, do Ravox Brasil. Eles integram um grupo autodenominado “Youtubers de Direita” e foram recebidos por Bolsonaro no Palácio do Planalto em julho do ano passado. O encontro constava da agenda oficial do presidente e foi mediado pela senadora Soraya Thronicke (PSL-MS). Destes, o maior canal é o Giro de Notícias, com pouco mais de 1,15 milhão de inscritos. Entre os vídeos publicados mais recentes, está “Doria na cadeia hoje ainda”.
![Youtuber Emerson Teixeira em ato com Abraham Weintraub](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Design-sem-nome-27.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
As ações da PF se deram no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura o financiamento e a organização de atos antiemocráticos pelo país. No total são cumpridos 21 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal.
Como mostrou o Radar, outro alvo da operação é o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), fiel apoiador de Bolsonaro no Congresso. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Silveira é a única pessoa com foro no STF atingida pela operação desta terça-feira.
Fontes próximas ao presidente Jair Bolsonaro confirmaram a VEJA que o empresário Luis Felipe Belmonte e o publicitário Sergio Lima, aliados de Bolsonaro na criação do partido Aliança Pelo Brasil, estão entre os alvos da operação. Belmonte é vice-presidente da sigla – que ainda não foi oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral, suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF).