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Wassef diz à PF que recomprou Rolex a pedido de Fabio Wajngarten

Ex-secretário de Bolsonaro figura no caso como advogado do ex-presidente e também como investigado

Por Daniel Pereira Atualizado em 29 nov 2023, 20h12 - Publicado em 29 nov 2023, 18h21
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  • Ao deflagrar uma operação em agosto no caso das joias, a Polícia Federal registrou que um Rolex de ouro branco e um outro relógio de luxo, da marca Patek Philippe, foram vendidos em junho de 2022, quando Jair Bolsonaro ainda era presidente, à loja Precision Watches, localizada na cidade de Willow Grove, no estado americano da Pensilvânia, por 68 000 dólares. O negócio foi fechado pessoalmente pelo tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens e braço-direito de Bolsonaro na Presidência. A PF também registrou que, depois do escândalo das joias vir a público, em março deste ano, aliados do capitão iniciaram uma ofensiva para recomprar e repatriar presentes valiosos comercializados em nome dele, numa tentativa de evitar transtornos ainda maiores com a Justiça.

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    A PF descobriu que Frederick Wassef, advogado de Jair e Flávio Bolsonaro, recomprou o Rolex e, por isso, apreendeu seus telefones celulares e o intimou a depor. O depoimento de Wassef, ao qual VEJA teve acesso com exclusividade, preenche lacunas, esclarece pontos nebulosos e reforça o papel de um personagem no enredo: Fabio Wajngarten, secretário de Comunicação da Presidência na gestão Bolsonaro e um dos advogados do ex-presidente no caso das joias.

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    Antes mesmo de receber a intimação em mãos e ter acesso aos autos, Wassef procurou a PF para prestar esclarecimentos por se sentir incomodado com a versão — que tachou de “fake news” — de que tinha sido convocado para a missão por um grupo de militares. Em um hora e quarenta minutos de depoimento, ele disse de forma enfática que quem lhe pediu para comprar o Rolex e trazê-lo de volta ao Brasil foi Fabio Wajngarten, que justificou o pedido diante da possibilidade de o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar a devolução dos presentes recebidos por Bolsonaro.

    Quem pagou o Rolex de Bolsonaro?

    Wassef, segundo ele contou à PF, já tinha uma viagem de férias para os Estados Unidos marcada para março de 2023. Nos dias que antecederam o embarque, Wajngarten teria lhe telefonado e mandado mensagens “constantemente” para reforçar o pedido. Ao pousar em Miami, Wassef foi alvo de chamadas “obsessivas” e “compulsivas” de Wajngarten, devidamente registradas nos celulares apreendidos pelos policiais federais. Wassef afirmou ainda que aceitou fazer o favor porque Wajngarten se comprometeu a ressarci-lo, o que ainda não teria ocorrido, e porque ajudaria a sociedade brasileira ao devolver um bem à União. “Caso Fabio Wajngarten não lhe devolva o valor, vai processá-lo para reaver essa quantia”, anotou a PF ao tomar o depoimento.

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    Além de apontar Wajngarten como o mentor do plano de resgate, Wassef detalhou o passo a passo da recompra do Rolex e de sua repatriação para o Brasil. Conforme já havia declarado publicamente, ele ratificou que pagou o relógio em espécie, com recursos próprios, devidamente declarados. Em 13 de março, dois dias depois de desembarcar em Miami, sacou 35 000 dólares de uma conta bancária, os quais juntou a outros 14 000 dólares que guardava em sua casa em Miami. No dia seguinte, viajou de avião até a Filadélfia e de lá dirigiu por quase duas horas até Willow Grove, onde recomprou o relógio por 49 000 dólares.

    Quem trouxe o Rolex de volta ao Brasil?

    Cumprida a missão, seguiu a viagem pelos Estados Unidos, com passagem inclusive por Nova York, sempre com a posse do Rolex. Em meio ao tour americano, Wajngarten pediu que ele voltasse ao Brasil com a joia em mãos, o que Wassef se negou a fazer sob a alegação de que era uma pessoa pública e que poderia ser reconhecido. Acrescentou que, se embarcasse com o Rolex, entregaria o relógio à Receita Federal ao desembarcar. Diante do impasse, Wajngarten acertou com Wassef que um brasileiro, conhecido de Wajngarten, viajaria com o Rolex dos Estados Unidos para o Brasil.

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    Ficou combinado que Wassef entregaria o relógio ao tal preposto no estacionamento de uma loja Best Buy em Miami. Assim foi feito, e o emissário de Wajngarten trouxe o bem de volta ao Brasil. De acordo com o depoimento, o portador, que Wassef não soube dizer a identidade, lhe entregou o relógio em seu famoso imóvel de Atibaia, o mesmo em que foi preso Fabrício Queiroz, acusado ser o operador da rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Três dias depois de receber o Rolex, Wassef repassou a encomenda para Mauro Cid — não na Hípica Paulista, como suspeitou de início a Polícia Federal, mas no aeroporto de Congonhas, momentos antes de o ex-ajudante de ordens embarcar para Brasília.

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    O relógio — que partiu da Arábia Saudita, chegou a Brasília, saiu do país de forma clandestina rumo aos Estados Unidos, passou por Los Angeles, Willow Grove, Nova York, Miami, Atibaia e São Paulo — está hoje sob os cuidados da Caixa Econômica Federal. Conhecido pela lealdade canina a Bolsonaro, Wassef disse no depoimento que não houve nenhuma participação do ex-presidente na operação de recuperação do Rolex e declarou que Mauro Cid só lhe passou a localização da loja em que estava o relógio. O pedido de recompra e os detalhes da repatriação, fez questão de reforçar, partiram de Wajngarten.

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    O passado de dois velhos conhecidos

    Advogados do presidente em casos distintos, Wassef e Wajngarten são velhos conhecidos. Foi o primeiro que apresentou o segundo a Bolsonaro, no início de 2016, durante um jantar no apartamento do empresário Meyer Nigri, dono da Tecnisa. Depois disso, Wassef — que conheceu o capitão em 2014, quando ele ainda era um deputado de baixo clero — fez diversos movimentos para aproximá-lo de Wajngarten, que acabou sendo incorporado na equipe da campanha presidencial e no governo.

    Procurados por VEJA, Wassef e Wajngarten disseram que não comentariam o caso porque a investigação está sob sigilo. Além de advogado de Bolsonaro, Wajngarten foi intimado a depor na condição de investigado e preferiu ficar em silêncio. Ele já estava no radar da PF porque, entre outros motivos, Mauro Cid mandou um áudio ao ex-secretário de Comunicação da Presidência em 13 de março, um dia antes de Wassef comprar o Rolex: “Cara, nem sabia que você estava no circuito. E eu falei, pô, se não fosse o Fabio nessa guerra toda, o negócio estaria muito mais enrolado”.

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