O vereador carioca Renato Cinco (PSOL) lançou sua pré-candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro e expôs uma crise nas articulações do PSOL rumo às eleições do ano que vem. O candidato natural da sigla,o deputado federal Marcelo Freixo, derrotado em 2012 e 2016, foi criticado por liderar costuras com PT, PCdoB, PDT e outros partidos de esquerda. Vereador em segundo mandato, Cinco é sociólogo e um dos organizadores da Marcha da Maconha no Rio de Janeiro. À VEJA, ele avaliou que o PSOL tem tomado atitudes que justificam a pecha de “linha auxiliar do PT”.
Por que lançar uma pré-candidatura à prefeitura do Rio no ano que vem? O nome do Marcelo Freixo não é unanimidade no partido?
A maior parte das correntes do partido está com o Marcelo Freixo, mas é necessário que a gente discuta um programa, faça um diagnóstico da cidade e aí passamos para discussão das alianças. O debate sobre 2020 não pode partir da pergunta “quem são os nossos aliados?”.
O argumento de muitas lideranças é de que é preciso uma ampla aliança para lidar com a candidatura do prefeito Marcelo Crivella (PRB), que disputará a reeleição, e com um eventual nome apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
É preciso coerência. Do ponto de vista das lutas práticas, temos que realmente nos unir em defesa da Amazônia e contra a Reforma da Previdência, por exemplo. No caso da maconha, no qual milito há anos, há gente de esquerda e de direita. Mas na disputa eleitoral não pode ser assim, a formulação tem que ser mais profunda. O discurso é de “união contra o fascismo”, mas, na prática, a Previdência foi votada sem manifestações nas ruas.
O PSOL não faz uma boa oposição ao governo Bolsonaro, então?
No período do PT, o PSOL alimentava diversas lutas. Agora, enfatiza-se a necessidade de união contra a direita, mas pensando em acordo para eleições. O autoritarismo no Brasil se construiu mesmo com a esquerda no poder, o aumento da letalidade policial, do encarceramento, não são dados recentes. Precisamos negar isso.
Como?
PT e PCdoB, por exemplo, são partidos que estiveram comprometidos com as piores gestões da história do Rio de Janeiro, no estado e no município. A população não vai esquecer disso na hora de votar. Precisamos de autonomia e de um projeto de esquerda socialista para cidade do Rio, porque hoje há razão nos que dizem que o PSOL se comporta como linha auxiliar do PT.
O senhor, então, prefere ver os votos do seu campo político divididos do que apostar numa união e em uma candidatura única.
A aliança que defendo é com PSTU e PCB. Um novo ciclo de centro-esquerda, baseado nessas alianças que já foram feitas, pode levar a mais uma decepção da população e ao surgimento de uma direita ainda mais forte que a atual.