Suspeitas relacionadas a lobista acusado de vender sentenças serão enviadas ao STF
Pedido partiu do procurador-geral Paulo Gonet após uma série de reportagens publicadas em VEJA
O procurador-geral da República Paulo Gonet requisitou que sejam encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) todas as investigações criminais em poder do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que envolvam desembargadores e quaisquer personagens relacionados ao lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, nome de proa no esquema que aponta a comercialização de decisões judiciais em quatro gabinetes da segunda corte mais importante do país. Com a ordem, o STJ deve encaminhar aos cuidados do ministro do STF Cristiano Zanin investigações sobre Andreson e sobre servidores do tribunal, além de apurações ainda confidenciais que mostram a atuação do lobista em diferentes tribunais de Justiça.
A decisão de Gonet ocorre em meio a uma série de reportagens de VEJA que revelaram que a Polícia Federal investiga a atuação de Gonçalves, em parceria com o advogado Roberto Zampieri, junto a servidores do STJ lotados nas equipes dos ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro para comprar decisões judiciais favoráveis a clientes poderosos. Não há indícios de que os magistrados compactuavam ou tinham conhecimento das ilegalidades identificadas em seus gabinetes. Nesta quinta-feira, em outra frente, uma operação da Polícia Federal que investiga desembargadores de Mato Grosso do Sul suspeitos de mercadejar sentenças bateu em endereços ligados a Andreson e apreendeu um computador e o celular utilizado pelo lobista. Cinco desembargadores sul-mato-grossenses foram afastados do cargo.
Reportagem de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais mostra que nos últimos dias, sem maior alarde, a Polícia Federal, o STF e integrantes do STJ tiveram de pressionar uma Vara Federal em Brasília para que o acervo explosivo do telefone celular de Roberto Zampieri, do qual Andreson era um interlocutor privilegiado, fosse encaminhado ao Supremo. Por ter menções aos quatro juízes do STJ, que têm foro no STF, os diálogos deveriam ser remetidos de imediato à Corte, mas por razões ainda desconhecidas ficaram sob a guarda de um juiz que protelou por quase duas semanas o envio do material ao tribunal.
A demora, considerada fora do padrão por autoridades que acompanham o caso, levou policiais federais e ministros do Supremo a partirem para cima da Vara e cogitarem que, para além das já conhecidas referências a traficâncias nos gabinetes dos ministros do STJ. haveria um movimento de blindagem para evitar que determinadas investigações fossem levadas adiante. Na segunda-feira 21, o ministro Zanin, responsável pelos casos, encaminhou à Procuradoria-geral da República os três inquéritos abertos pela Polícia Federal sobre o assunto para que o Ministério Público definisse os próximos passos da apuração.