Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Suspeita de atentado transforma disputa no União Brasil em caso de polícia

Episódio envolve troca de acusações, denúncia de corrupção e ameaças de morte

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 mar 2024, 13h35 - Publicado em 15 mar 2024, 06h00

Na quarta-feira 13, o União Brasil instaurou um processo para expulsar o deputado federal Luciano Bivar, ninguém menos que o presidente do partido. Dois dias antes, em Pernambuco, o fogo destruiu uma casa do advogado Antonio Rueda, vice-presidente da sigla, e outra da irmã dele, a tesoureira. Os dirigentes travam há meses uma disputa pelo comando da legenda, a terceira maior do país, que tem 59 deputados, sete senadores e um orçamento superior a 500 milhões de reais este ano. Rueda disse que ele e a irmã foram alvo de um atentado político e não precisou nem citar o nome de quem eles consideram como o principal suspeito. O embate entre os Rueda e Bivar já rendeu ameaças, inclusive de morte, e atingiu o ponto de ebulição com o incêndio supostamente criminoso. Uma das estrelas do partido, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, classificou o ataque como inaceitável, assinou a representação para a expulsão do deputado e disse que pedirá ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação do mandato do colega. Na iminência de ser destituído do cargo, Bivar anunciou que cairia atirando — e cumpriu a promessa.

Sem apresentar uma mísera evidência, o presidente do União acusou o seu vice de utilizar a estrutura da sigla para traficar influência, mercadejar alianças políticas e negociar facilidades junto a tribunais superiores. Também afirma ter cedido um barco e um imóvel em Miami para supostas tramoias do ex-aliado, vincula a esposa dele ao furto de um cofre de sua propriedade e ainda insinua que o desafeto desviou dinheiro do caixa do partido. Bivar também imputa ao governador Ronaldo Caiado o envolvimento num assassinato em Goiás — sem provas, evidentemente. Em nota, o governador negou ser investigado no caso, afirmou que Bivar “mente de forma despudorada e criminosa” e disse que acionará judicialmente o parlamentar.

SEM PROVAS - Bivar: cofre roubado, acusações de desvios e assassinato
SEM PROVAS - Bivar: cofre roubado, acusações de desvios e assassinato (União na Câmara/Flickr)

Poucas atividades são tão cobiçadas quanto a de dirigente de partido político. As atuais 29 legendas movimentarão em 2024, um ano eleitoral, mais de 6 bilhões de reais em recursos públicos — uma estrutura que, quando mal admi­nistrada, se transforma numa máquina de produzir escândalos. Com apenas dois anos de existência, o União Brasil pode superar tudo que já se viu até hoje em termos de absurdo.

Continua após a publicidade

Antigos aliados que conhecem muito bem o passado um do outro, Bivar e Rueda protagonizam uma troca de acusações de arrepiar. Antes de ter a casa incendiada, o vice-presidente da sigla já havia denunciado à Justiça três ameaças que teria sofrido por parte do agora adversário. No processo, ao qual VEJA teve acesso, Rueda afirma ter tomado conhecimento de um plano para matá-lo. Segundo ele, Bivar teria confidenciado a uma pessoa próxima que já havia contratado assassinos de aluguel e reservado 20 milhões de reais para concretizar a empreitada.

O advogado arrolou como testemunha o vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, que teria ouvido a confissão do deputado. Procurado, Leite disse que não iria comentar. Rueda também anexou ao processo um áudio mostrando que Bivar teria ameaçado de morte ele e a filha, uma criança de 10 anos de idade, e outro contendo o relato de uma pessoa sobre uma emboscada armada para surpreendê-­lo em Brasília. Essa última gravação foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal uma semana antes do incêndio em Pernambuco.

LABAREDA - Destroços nas casas: vestígios indicam que incêndio foi criminoso
LABAREDA - Destroços nas casas: vestígios indicam que incêndio foi criminoso (//Reprodução)

Localizadas a cerca de 500 metros de um imóvel de Bivar e dentro de um condomínio particular no município de Ipojuca (PE), as duas casas começaram a pegar fogo simultaneamente. Em ambas, as labaredas atingiram primeiramente os móveis, o que reforça a possibilidade de uma ação criminosa. Ouvido por VEJA, o deputado minimiza o conteúdo das gravações e nega envolvimento com os incêndios. “Se fizerem alguma ilação direta entre mim e isso que aconteceu vou processar quem quer que seja por danos morais”, disse Bivar. Mais uma vez sem provas, ele jura que também foi ameaçado pelo advo­ga­do. “A diferença é que eu não gravei. Mas ele ameaçou minha família”, diz. Em nota, Rueda disse que as acusações de Bivar são “absurdas e fantasiosas” e afirmou que o contra-ataque do deputado tem “o objetivo espúrio de tentar desviar o foco das ameaças e dos graves atentados ocorridos em nossas residências no litoral de Pernambuco”.

O União Brasil nasceu da fusão entre o DEM e o PSL, partido que era presidido por Bivar em 2018 e pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República. Logo no início do governo, o deputado se desentendeu com a ala bolsonarista da legenda que, na época, se empenhou para reabrir a investigação de um rumoroso crime ocorrido em 1982 envolvendo Bivar. O caso foi noticiado por VEJA em novembro de 2019. Há quarenta anos, o deputado foi apontado pela polícia de Pernambuco como suspeito da morte de uma massagista, com quem teria tido um caso amoroso. O corpo da mulher apareceu boiando no Rio Capibaribe, em Recife. O inquérito nunca foi concluído. Perguntado a respeito, ele disse que a tentativa de enredá-lo no assassinato foi uma armação perpetrada por seus inimigos e que nunca foi sequer intimado a prestar esclarecimentos sobre o assunto. Nada de novo, portanto. Coisas da política.

Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.