O ex-ministro da Justiça Sergio Moro encerrou por volta das 23h30 deste sábado, 2, seu depoimento de mais de nove horas horas na sede da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba, sobre suas denúncias de tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro nas investigações da PF e de acesso a relatórios confidenciais. A antecipação do depoimento de Moro para este sábado foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, relator da investigação sobre a conduta do chefe de Estado.
Moro chegou na sede da PF de Curitiba às 13h20, recebido por grupos de apoio e de protesto contra sua atitude. O depoimento começou uma hora depois, conduzido por três procuradores da República, dois delegados do Serviço de Inquéritos da Diretoria Investigação e Combate à Corrupção (Dicor) e pelo diretor da Dicor, o delegado federal Igor Romário de Paula, que atuou na PF de em Curitiba durante a Operação Lava Jato. Ele teria apresentado as provas que já dissera ter em mãos: audios e mensagens trocadas com o presidente.
Em entrevista exclusiva a VEJA, Moro afirmou que entregaria provas de acusações de interferência política de Bolsonaro “em momento oportuno”. Além disso, ele revelou que é vítima de intimidação e que o presidente nunca priorizou o combate à corrupção. O ex-magistrado pediu demissão em 24 de abril, sob o argumento de “preservar” sua biografia. Depois de meses de embate com o Bolsonaro, ele fora surpreendido naquela madrugada com a demissão do diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, a quem nomeara, publicada no Diário Oficial da União.
Para a imprensa, Moro detalhou suas conversas com o presidente, que insistia na subtituição de Valeixo por uma autoridade mais propensa a informá-lo sobre as investigações e relatórios de inteligência da PF. O ex-ministro afirmou ter resistido a essa investidas. Moro relatou ainda que Bolsonaro tinha “preocupações” com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e que, por isso, desejava a troca no comando da PF e os dirigentes das superintendências de Pernambuco e do Rio de Janeiro. “O problema é permitir que seja feita a interferência política na Polícia Federal”, resumiu na ocasião.
Na manhã deste sábado, Bolsonaro chamou Moro de “Judas” ao postar um vídeo com o título “Quem mandou matar Bolsonaro?”, em referência ao atentado a faca que sofreu de Adélio Bispo durante a campanha eleitoral de 2018. “Os mandantes estão em Brasília?”, escreveu em seu perfil no Twitter. “O Judas, que deporá, interferiu para que não se investigasse?”