Com o Brasil cindido ao meio desde as eleições presidenciais, a polarização do país deu mostras de vitalidade no fim do primeiro ano do governo do presidente Lula, com 88% do eleitorado afirmando categoricamente não se arrepender do voto depositado nas urnas nas eleições de 2022. Os dados são da pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 20. Entre eleitores que dizem ter optado pelo petista no segundo turno, o grau de convicção no voto chega a 92%, enquanto 93% dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmam não ter se arrependido.
A manutenção do quadro de divisão política também ganha corpo quando são analisados estratos tradicionalmente vinculados a Lula, como eleitores da região Nordeste, ou a Bolsonaro, como brasileiros que se declaram evangélicos. Quando perguntados que nota dão para o primeiro ano de governo, são do Nordeste a cifra mais generosa – 6,9 – e de eleitores que ganham até dois salários mínimos – 6,2. A nota geral dada ao novo Executivo é de 5,7, mas nichos atribuídos ao capitão, como moradores da região Sul, eleitores de maior poder aquisitivo e evangélicos, foram os que deram notas mais baixas – 5,2 nos três casos.
Os efeitos de um país rachado são visíveis em uma terceira rodada de questionamentos da pesquisa Genial/Quaest, quando os entrevistados são perguntados se Lula ajuda a unir ou desunir o país e se o Brasil está direcionado para o rumo certo. Para 58%, Lula ajudou a desunir o Brasil (35% acreditam que ajudou a unir), mas quando é feito o recorte entre eleitores bolsonaristas, 89% dizem que ajudou a desunir (7% a unir).
No universo de votantes de Lula no segundo turno, 31% afirmam que o petista ajudou a desunir (62% a unir). O Brasil está indo na direção certa para 45%, mas 43% discordam. Há dois meses, quando foi feita a última medição, 49% diziam que o país caminhava por uma trilha errada e 43% pela certa. O levantamento foi realizado a partir de 2.012 entrevistas. Ele tem margem de erro de 2,2 pontos porcentuais e nível de confiança de 95%.
A aprovação do trabalho do presidente Lula é de 54%, mesmo porcentual do último levantamento, em outubro, enquanto a avaliação geral do governo se manteve estável, com 36% de índice positivo, 29% de negativo e patamar de 32% entre aqueles que consideram a administração federal como regular.
Mais uma vez, as grandes oscilações ocorrem quando os eleitores são divididos entre aqueles que votaram no petista e em Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial. Entre os eleitores que dizem ter escolhido o ex-mandatário, a avaliação geral do governo é negativa para 66% (seis pontos porcentuais a mais do que em outubro), regular para 27% e positiva para apenas 5%. Entre os brasileiros que foram às urnas endossar um terceiro mandato do atual presidente, 69% têm avaliação positiva do governo (mesma cifra de outubro), 26% regular e 4% negativa.
O Nordeste, que em 2022 deu mais de 69% dos votos válidos ao petista no segundo turno, é a região em que os eleitores mais aprovam o trabalho de Lula (70% ante 68% em outubro). Em sentido oposto, a desaprovação é mais significativa entre os eleitores que se declaram evangélicos, com 56% (41% aprovam). Entre os católicos, a desaprovação é de 37%, e a aprovação, de 61%.
Também evidência da polarização, o endosso ao trabalho de Lula chega a 90% entre aqueles que declararam ter votado no petista no segundo turno e a apenas 15% entre os eleitores bolsonaristas. Em sentido oposto, entre os que dizem ter votado em Bolsonaro, o patamar de desaprovação chega a expressivos 83%.
Quais os maiores acertos e erros do governo?
A pesquisa Genial/Quaest também mediu os maiores acertos e erros do governo ao fim do primeiro ano de mandato de Lula e as perspectivas do eleitorado para o futuro próximo. Entre os maiores tentos, lideram as menções dos entrevistados a recriação do Minha Casa, Minha Vida, o aumento do Bolsa Família e o programa de renegociação de dívidas Desenrola. Na categoria de erros, viagens internacionais ganham a dianteira em menções, ao lado da postura de não classificar o Hamas como um grupo terrorista e da decisão de retomar relações diplomáticas com a Venezuela.
Comparando os dois primeiros mandatos de Lula, o atual governo está pior para 36%, igual para 32% e melhor para 29%. A última vez que esta variante foi medida pela Quaest, em junho, 35% haviam afirmado que a atual administração era melhor do que as duas anteriores do petista. Na comparação com fevereiro, porém, quando a consultoria fez o mesmo questionamento, 53% diziam que Lula 3 era melhor do que os dois mandatos anteriores.
Perspectivas econômicas
Apontado pelos entrevistados como o melhor ministro do primeiro ano, Fernando Haddad personifica também aquele que é considerado o principal problema do país: a economia (25%). Saúde (14%), questões sociais (13%), corrupção (12%), violência (10%) e educação (5%) completam a lista do que os entrevistados apontaram como gargalos mais relevantes.
Embora a avaliação da economia tenha permanecido estável na comparação de outubro para dezembro, com 34% dos entrevistados afirmando que melhorou, 31% que piorou e 33% a considerando do mesmo jeito, nos próximos 12 meses 55% têm expectativa de que a economia vai melhorar (cinco pontos a mais do que em outubro) e 25% de que vai piorar. Também aumentou para 32% o patamar daqueles que acham que o desemprego vai diminuir (ante 27% em outubro).
A despeito de 48% dos entrevistados terem considerado que, no último mês, o preço dos alimentos subiu, na percepção da inflação 20% dizem ter expectativa de que ela vai diminuir. Pela primeira vez desde junho de 2022, o boletim Focus do Banco Central registrou nesta segunda-feira avaliação semelhante, com redução da expectativa de inflação deste ano de 4,51% para 4,49%.