O resultado das eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro foi consolidado na madrugada desta segunda-feira, 16, e trouxe algumas surpresas para os cidadãos da capital fluminense.
Funcionando como uma espécie de termômetro eleitoral para as eleições majoritárias para presidente e para o Congresso Nacional nos últimos anos, a casa legislativa carioca teve uma mudança significativa em relação ao pleito de 2016. A principal delas é o derretimento do MDB do Rio: da maior bancada composta por dez vereadores em 2016, a sigla passou para apenas um parlamentar eleito – um possível efeito de uma legenda mergulhada em escândalos de corrupção de Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Jorge Picciani.
A partir daí, um novo equilíbrio de forças entre o partido de esquerda PSOL, o centrista DEM e o direitista Republicanos começa a vigorar em 2021: cada um deles assegurou sete vagas no legislativo municipal.
O trio de legendas que vai dominar a Câmara pelos próximos quatro anos cresceu em relação à legislatura passada. Enquanto o PSOL tinha a 2ª maior bancada em 2016, com seis vereadores eleitos, DEM tinha quatro parlamentares e o Republicanos (ex-PRB), três.
O DEM é a legenda do ex-prefeito Eduardo Paes, que foi líder das eleições do 1º turno com 37,01% dos votos válidos. Já o Republicanos é a sigla que abriga o atual prefeito, Marcelo Crivella, que ficou em 2º lugar com 21,90% do eleitorado carioca. Os dois vão disputar a cadeira da Prefeitura do Rio no 2º turno.
Independentemente de quem saia vencedor, a atual composição da Câmara do Rio indica que o próximo prefeito vai ter que trabalhar duramente nas costuras políticas para ver suas pautas atendidas, já que o PSOL é um partido naturalmente oposicionista a ambos os candidatos.
Os grandes puxadores de voto dos três partidos estão entre os cinco primeiros colocados: os psolistas Tarcísio Motta e Chico Alencar, o direitista Carlos Bolsonaro e o cacique César Maia, pai do atual presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, Rodrigo Maia (DEM).
PSOL
Consagrado como vencedor absoluto da disputa, o carismático psolista Tarcísio Motta obteve 86.243 votos. Chico Alencar, que também é apreciado pela memória afetiva do esquerdista carioca, foi o 5º mais votado, com 49.422 votos. A soma expressiva dos dois (mais de 135 mil votos) garantiu que ao menos quatro vereadores do PSOL tivessem assento na Câmara do Rio.
O partido passa, também, por uma renovação do seu quadro na casa legislativa, já que os vereadores Leonel Brizola Neto, Renato Cinco e Babá (que entrou como suplente no lugar de Marielle Franco, assassinada em uma emboscada a tiros em março de 2018) não conseguiram a reeleição.
Novos nomes foram alçados pela legenda: Monica Benício, viúva de Marielle, registrou expressivos 22.919 votos. Thais Ferreira, candidata negra da periferia do Rio, também garantiu seu lugar na Câmara – obteve mais de 14 mil votos.
Vereador evangélico progressista da Zona Oeste do Rio, o economista William Siri também foi eleito – obteve 9.957 votos. Egresso de uma região dominada por milicianos e neopentecostais, promete trabalhar pela liberdade religiosa de culto na cidade.
Republicanos
Embora tenha registrado um número 34% menor de votos em relação ao pleito anterior, Carlos Bolsonaro, 2º vereador mais votado em 2020, também auxiliou na elevação de mais nomes dos Republicanos.
Na sigla, contudo, a expressiva votação de outros correligionários do filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também ajudou três nomes com menor votação a se elegerem.
Mas o partido traz pouca renovação política, com apenas dois nomes novos – a maior parte dos políticos foi reeleita. Além de Carlos Bolsonaro, com 71 mil votos, se reelegeram Inaldo Silva (21.885 votos), João Mendes de Jesus (20.811 votos), Tânia Bastos (19.027 votos) e Zico, com 13.964 votos.
Carlos, que foi reeleito para o seu sexto mandato, não conseguiu emplacar o nome da mãe, Rogéria Bolsonaro, que acumulou minguados 2.034 votos. Seu gabinete na Câmara de Vereadores é investigado pelo Ministério Público do Rio em um suposto esquema de corrupção que envolve funcionários fantasmas, interceptação de salários (conhecida como “rachadinha”) e, como VEJA revelou, polpudas gratificações a funcionários em rendimentos que chegavam a até 17 mil reais por mês.
DEM
A legenda consagrou novamente o cacique César Maia com 55.031 votos – o 4º vereador mais votado nas Eleições Municipais de 2020. Atual presidente da Câmara do Rio, o também veterano Jorge Felippe assegurou sua vaga com 18.507 votos.
Quase todos os correligionários foram reeleitos para novos mandatos na próxima legislatura: Carlo Caiado, com 26.212 votos; Thiago K Ribeiro, com 18.960 votos; Veronica Costa, com 17.939 votos, e Alexandre Isquierdo, com 17.764 votos.
A “novidade” da sigla seria Laura Carneiro, que recebeu mais de 14 mil votos e foi puxada pelos bons resultados dos associados de seu partido, com a diferença de que ela é política veterana: exerceu três mandatos de vereadora e quatro de deputada federal pelo Rio de Janeiro. O último se encerrou em 2019, quando ela deixou a Câmara dos Deputados.
As surpresas
A prisão do filho Pedro Fernandes e o esgarçamento do PSC devido ao afastamento do governador Wilson Witzel e à prisão do líder da sigla Pastor Everaldo não foram suficientes para arranhar a candidatura da vereadora Rosa Fernandes: ela foi a mulher mais votada nas eleições e a 7ª entre todos os candidatos, arregimentando 26.409 votos.
Por outro lado, a segunda mulher mais votada foi Tainá de Paula (PT), eleita com 24.881 votos, 9ª colocada entre todos os candidatos com melhor desempenho. Amiga pessoal de Marielle, negra e cria da Praça Seca, na Zona Oeste do Rio, a arquiteta e urbanista tem experiência pela cidade: já trabalhou em projetos urbanos em territórios como Rocinha, Rio das Pedras, Jacarezinho e Pavão Pavãozinho. Trata-se da sua primeira legislatura na Câmara Municipal.
Outro candidato eleito cuja votação impressionou foi o youtuber Gabriel Monteiro (PSD), com 60.326 votos. Ele foi o terceiro vereador mais votado nas Eleições 2020. Novo na seara política, o ex-PM construiu seus resultados eleitorais com base em polêmicas. A mais recente delas foi o flagra em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, quando policiais militares fizeram escolta ilegal para o candidato na semana passada armados com espingardas calibre .12 e portando distintivos profissionais. Eles vão ser alvo de um processo interno por violar os códigos de conduta da corporação, segundo informou a PM na última sexta, 13.
Dono de um discurso moralista e punitivista, curiosamente, Gabriel Monteiro escolheu a legenda da deputada federal Flordelis, ré apontada como mandante da morte do marido Anderson do Carmo, para se abrigar.