As indicações de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está irritado com o governo e pretende deixar a articulação pela aprovação da reforma da Previdência tiveram repercussão imediata entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus principais auxiliares.
Na quinta-feira 21, Maia avisou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que deixará a articulação política pela reforma após ter se irritado com um post do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) com fortes críticas a ele.
O filho do presidente compartilhou nas redes a resposta do ministro da Justiça, Sergio Moro, à decisão de Maia de não dar prioridade agora ao projeto que prevê medidas para combater o crime organizado e a corrupção – Maia também havia se irritado com a postura do ex-juiz. “Há algo bem errado que não está certo!”, escreveu Carlos no Twitter.
“Eu estou aqui para ajudar, mas o governo não quer ajuda”, disse o presidente da Câmara, segundo deputados que estavam ao seu lado no momento do telefonema a Guedes. “Eu sou a boa política, e não a velha política. Mas, se acham que sou a velha, estou fora”, completou.
Em viagem ao Chile, o presidente contemporizou e afirmou não ver “motivo”, com base nas publicações recentes do seu filho Carlos nas redes sociais, para o afastamento de Maia. No entanto, disse estar disposto a buscar uma reaproximação.
“Eu estou sempre aberto ao diálogo. Eu estou fora do Brasil. Só quero saber qual é o motivo. Eu não dei motivo para ele sair [da articulação da reforma]”, argumentou o presidente, em conversa com jornalistas após o encontro com chefes de Estado da América do Sul em Santiago.
Questionado sobre o que fazer para reverter a decisão de Maia, Bolsonaro reiterou que pretende conversar com o deputado e comparou a relação com ele a um namoro. “Você nunca teve uma namorada e brigou com ela? O que você fez para ela voltar? Não conversou?”
Em um possível ponto que talvez dificulte o diálogo, o presidente afirmou que concorda com a avaliação do filho e de Moro de que há demora na discussão do projeto conhecido como “lei anticrime”, de autoria do ex-juiz da Lava Jato. “O Brasil todo está indignado com a demora da votação do projeto anticrime. Nós, no Brasil, não conseguimos mais viver com 60.000 homicídios por ano”, defendeu, dizendo não acreditar que isto teria provocado a crise com Maia. “Será que foi esse o motivo? Se for esse o motivo, eu lamento, mas não é motivo”.
Nesta semana, o presidente da Câmara chamou a proposta de Moro de “copia e cola” de um conjunto de medidas já defendido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sinalizou que este só tramitará na Casa após a votação das mudanças no sistema de aposentadorias.
‘Pontes’
Enquanto isso, no Brasil, o presidente em exercício, Hamilton Mourão (PRTB), buscou relevar as publicações de Carlos Bolsonaro, em defesa de Moro e críticas a Maia, dizendo que “rede social não tem a ver com a posição do Executivo”. E defendeu a ideia de que o governo busque o presidente da Câmara.
“Se por acaso o presidente Rodrigo [Maia] ficou incomodado com isso, compete a nós do governo lançarmos as pontes e conversamos com ele”, afirmou o vice-presidente. “Eu o considero, particularmente, um apoiador incondicional das principais ideias que nós temos, e conto, assim como todos nós do governo, com o apoio dele”, completou.
Pelas redes sociais, outro filho de Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), saiu em defesa do deputado do DEM. “O presidente da Câmara Rodrigo Maia é fundamental na articulação para aprovar a Nova Previdência e projetos de combate ao crime. Assim como nós, está engajado em fazer o Brasil dar certo”, escreveu.
O senador fluminense ainda indicou que discorda da visão de Moro de buscar a aprovação do projeto “anticrime” simultaneamente à reforma da Previdência. “A governabilidade durante os quatro anos de governo está diretamente ligada à aprovação da Nova Previdência. Essa é a única frente de batalha que deve ser aberta no momento, todas as outras atrapalham o Brasil”.
Também no Twitter, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), adotou um tom catastrófico ao falar sobre a possível saída de Maia da articulação pela reforma. “Maia é um dos que mais têm trabalhado para a aprovação logo do principal plano do governo. Na prática, sem Maia, a coisa não vai e o Brasil empaca”, disse.