A ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB), que disputa o segundo turno ao governo de Pernambuco, passou a viver um imenso drama pessoal na manhã de 2 de outubro, dia do primeiro turno. Marido da tucana e companheiro dela desde a adolescência, pai de seus dois filhos, o empresário Fernando Lucena sofreu um infarto em casa e morreu aos 44 anos. A tragédia familiar afastou a candidata da primeira semana da campanha no segundo turno, para o qual ela passou com 20,58% dos votos válidos, período em que se recolheu com a família. De volta à ativa na semana passada, como mostrou reportagem de VEJA desta semana, a tucana enfrenta a deputada Marília Arraes (Solidariedade), que levou 23,97% dos votos válidos e largou no segundo turno com apoios do PT de Lula e do PSB, até então hegemônico no estado.
Em um estado em que o petista teve nada menos que 65,27% dos votos no primeiro turno, Raquel adotou a estratégia de não declarar apoio nem a Lula nem ao presidente Jair Bolsonaro na corrida presidencial. Sobre o apoio do ex-presidente à adversária, a tucana diz ver com “naturalidade”, mas critica Marília por, em sua visão, só fazer uso da imagem do petista na campanha – além do sobrenome famoso.
“Minha adversária só tem um sobrenome e a imagem de Lula, que ela usou à exaustão no primeiro turno. Tem mais Lula do que Marília nas redes sociais dela. E não é de agora, vem de meses. Com tudo isso, a transferência de voto que ela conseguiu foi muito baixa. No segundo turno, temos tempos iguais de TV. Teremos condições iguais de nos apresentarmos aos pernambucanos”, disse Raquel Lyra a VEJA.
A candidata do PSDB afirma que a polarização presidencial “não interessa ao povo de Pernambuco” e mantém a estratégia de não nacionalizar o debate. Embora tenha definido pela neutralidade no cenário nacional, o antagonismo com uma candidata apoiada pelo PT faz com que começassem a pipocar fake news ligando Raquel Lyra a Bolsonaro, amplamente impopular no estado. Em uma das mentiras, uma montagem coloca a tucana ao lado de Bolsonaro e indica que ela participaria da esvaziada agenda de campanha dele no Recife, na semana passada.
“Pernambuco precisa de uma governadora com capacidade de liderança, de diálogo e de realização. Uma governadora capaz de construir as pontes necessárias com o presidente que os brasileiros elegerem no dia 30 de outubro. Eu tenho essa capacidade. O debate nacional só interessa a candidatos a governo que não têm trajetória, não têm entregas e precisam de muletas porque não conseguem discutir os problemas do estado”, afirma a tucana. “Quem vai governar Pernambuco a partir de 1º de janeiro é a governadora. Não é o presidente”, completa.
Para o segundo turno, Raquel Lyra recebeu apoio de Miguel Coelho, ex-prefeito de Petrolina (PE) que disputou o governo pelo União Brasil e teve 18,04% dos votos, enquanto seus aliados avaliam que devem migrar para ela naturalmente os votos de Anderson Ferreira (PL), candidato bolsonarista que recebeu 18,15%. Um interlocutor influente na campanha tucana afirma que uma das apostas será explorar a adesão do PSB do atual governador, o mal avaliado Paulo Câmara, a Marília. “Não dá para falar em mudança e estar junto de Paulo Câmara”, tem dito Raquel. Líder das pesquisas do segundo turno, a tucana deve participar de todos os debates com a adversária.