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Parente de traficante foi sócia de empresa de vice de Martha Rocha

Anderson Quack é dono da T4 Elétrica e próximo de Suellem Lengruber, ex-proprietária; tio-avô dela fundou a Falange Vermelha, origem do Comando Vermelho

Por Cássio Bruno Atualizado em 30 out 2020, 14h18 - Publicado em 30 out 2020, 13h33
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  • Vice na chapa da candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro, Martha Rocha (PDT), o produtor cultural Anderson Luiz Alves de Oliveira (PSB), o Anderson Quack, de 43 anos, é um dos sócios da T4 Elétrica, Hidráulica, Projetos e Construções Ltda. A empresa pertencia à amiga dele, Suellem Lengruber de Lacerda. Ela é sobrinha-neta do famoso traficante Rogério Lengruber, um dos criadores, entre o fim da década de 1960 e o início da de 1970, da Falange Vermelha, organização criminosa que deu origem ao Comando Vermelho, a maior facção do estado. Bagulhão ou Marechal, como era conhecido no mundo do crime, ficou preso por anos e morreu em 1992. Mesmo figurando na composição societária, Quack não declarou à Justiça Eleitoral possuir uma cota de 50% da T4. Ele informou não ter bens.

    Os laços de Anderson Quack com a família de Rogério Lengruber são estreitos e têm origem na Cidade de Deus, comunidade carioca dominada pelo Comando Vermelho. Quack e Suellem cresceram no local. Ela não tem ligação com o crime, segundo apurou VEJA. O primo de Quack, Tony Ribamar Alves Martins, é o outro sócio da T4. Os dois foram criados como irmãos. Tony ficou seis anos casado com Suelem. Quando se separaram, Quack foi chamado para fazer parte da empresa em substituição a ela. A T4 tem capital social de 50 mil reais, de acordo o contrato social ao qual VEJA teve acesso. A principal atividade é a instalação e a manutenção elétricas.

    Rogério Lengruber
    Rogério Lengruber quando foi preso (Reprodução/VEJA.com)

    Anderson Quack é um dos fundadores da Central Única das Favelas (Cufa), instituição sem fins lucrativos, junto com o empresário e produtor de eventos Celso Athayde e o rapper MV Bill. Quack atuou ainda como um dos diretores da Fundação Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, do governo federal. Nas eleições de 2018, ele concorreu para deputado federal pelo PSOL e obteve apenas 2.548 votos, não sendo eleito. Depois, ingressou no PSB e foi escolhido para ser o vice de Martha Rocha após um acordo do partido com o PDT.

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    A T4 Elétrica, Hidráulica, Projetos e Construções Ltda foi aberta em 20 de agosto de 2010. Anderson Quack ocupou o lugar de Suellem na sociedade a partir de 20 de setembro de 2019, data do contrato assinado entre os dois e Tony Ribamar. A empresa tem sede registrada na Estrada Capenha 656, apartamento 301, no Pechincha, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. No entanto, o endereço fica em um prédio residencial de três andares onde mora Tony. Atualmente, Suellem é dona de uma clínica de estética.

    Rogério Lengruber é idolatrado até hoje por integrantes do Comando Vermelho. Nos muros das centenas das comunidades dominadas pela facção, é comum ver a sigla “CVRL (Comando Vermelho – Rogério Lengruber)”. Rogério foi criado na favela do Rebu, em Senador Camará e praticava assaltos a banco com seu irmão, Sebastião Lengruber, o Tiguel. Rogério passou a maior parte da vida no antigo presídio de Ilha Grande, onde ganhou respeito no mundo do crime e organizou fugas cinematográficas na década de 1980 ao lado de comparsas como Willian da Silva Lima, o Professor; José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha; José Jorge Saldanha, o Zé do Bigode e Orlando Conceição, o Orlando Jogador.

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    A empresa T4 tem sede registrada em um prédio residencial na Zona Oeste do Rio (Cássio Bruno/VEJA.com)
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    Vítima de insuficiência hepática e diabetes, Rogério Lengruber ficou internado no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, Zona Sul. À época, a polícia fluminense temia que ele fosse resgatado de dentro da unidade por bandidos. Por isso, a escolta a Rogério era 24 horas. Todos os visitantes passavam por revistas. Após oito dias de internação, Rogério morreu em 29 de maio de 1992 por complicações da doença. Ele foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

    Procurada por VEJA, Suellem confirmou a ligação próxima da família Lengruber com Anderson Quack. Tony Ribamar, por sua vez, atendeu a ligação, mas desligou, em seguida, após o repórter se identificar. Anderson confirmou ser sócio da T4 Elétrica, Hidráulica, Projetos e Construções Ltda. “O Tony é meu primo-irmão. Fomos criados na mesma casa na Cidade de Deus”, contou Quack. “Quando precisou trocar a sociedade com a Suellem, ele pediu para eu ser sócio de forma temporária. A minha atividade é outra. Eu, por confiança (a ele), aceitei até que ele pudesse pôr outra pessoa no meu lugar”, completou.

    Quack afirmou não ter declarado a empresa para a Justiça Eleitoral “por engano”. “Isso já está sendo corrigido”, ressaltou. Sobre a relação com a família de Rogério Lengruber, Anderson Quack disse “não ver problemas” para a sua carreira política e nem para a campanha de Martha Rocha. Ex-chefe de Polícia Civil do Rio, a candidata do PDT não quis comentar o assunto.

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