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Para atrair eleitor de Bolsonaro, Crivella dá até tiro de fuzil e pistola

Prefeito carioca, que é bispo da Igreja Universal, trabalha para ter o apoio do presidente e um candidato a vice ligado ao clã bolsonarista

Por Cássio Bruno Atualizado em 8 set 2020, 16h47 - Publicado em 4 jul 2020, 12h49
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  • Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), está em busca de um vice na chapa para disputar a reeleição. E não tem medido esforços para que o escolhido seja indicação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Crivella e sua equipe de pré-campanha traçaram estratégias para agradar o clã bolsonarista. As medidas adotadas em meio à pandemia do novo coronavírus vão desde afrouxar o isolamento dos cariocas – sempre defendida por Bolsonaro, incluindo a liberação dos jogos de futebol – até adotar o discurso de armar a Guarda Municipal, mesmo sem qualquer chance de o projeto ser aprovado pela Câmara de Vereadores porque a Lei Orgânica da cidade proíbe.

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    A última investida de Marcelo Crivella para se aproximar de eleitores simpatizantes de Jair Bolsonaro ocorreu na quarta-feira, 1º. Ao lado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente, o prefeito participou de uma cerimônia que marcou a doação de 150 pistolas pela Polícia Rodoviária Federal ao município. De roupa social e usando um colete à prova de bala com o logotipo da corporação, Crivella deu 12 tiros no alvo – sete com um fuzil apoiado no ombro direito e outros cinco com uma pistola. “Já fui militar”, gabou-se aos presentes. A inusitada apresentação do religioso ocorreu na Superintendência Regional da PRF, na Via Dutra, altura de Vigário Geral, Zona Norte da capital. A plateia era formada por apoiadores dos Bolsonaro, como o deputado estadual Anderson Moraes (PSL) e o vereador de São João de Meriti, Charlles Batista (Republicanos).

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    Crivella ao lado do senador Flávio Bolsonaro (à direita) na assinatura do acordo com a PRF (divulgação/VEJA.com)

    O fato de Flávio Bolsonaro estar sendo investigado por prática de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) quando era deputado estadual não constrange Crivella. O senador já apareceu com o prefeito em outros eventos. Flávio foi apontado pelo Ministério Público como líder de uma organização criminosa que ficava com parte dos salários de funcionários de seu gabinete. De acordo com promotores, seu ex-assessor Fabrício Queiroz, que está preso em Bangu 8, era o operador do esquema. Além disso, a mãe e a ex-mulher do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro, foram funcionárias fantasmas por anos de Flávio Bolsonaro na Alerj. O parlamentar sempre negou as acusações.

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    Nas pesquisas internas de intenção de voto com mais de dez pré-candidatos e não divulgadas oficialmente, Crivella aparece em segundo lugar em todas elas. Está atrás apenas do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Para se reeleger, Crivella e sua coordenação de pré-campanha sonhavam enfrentar o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) no segundo turno para, segundo eles, ter chances de vitória. Mas Freixo desistiu. Agora, o projeto é ter apoio formal da família Bolsonaro e, assim, atrair os militares e eleitores da direita conservadora, além, claro, os evangélicos. O prefeito também tentará colar a imagem de Paes a de um ex-aliado: o ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção na Operação Lava-Jato. A distribuição de secretarias e cargos na prefeitura para partidos da futura aliança faz parte dos planos e já está sendo posta em prática. A maratona de inaugurações nos bairros é outra aposta. “Um dos slogan da campanha será: ‘foi o Eduardo Paes quem fez, mas foi o Crivella quem pagou'”, revelou um aliado do prefeito referindo a supostas dívidas deixadas pelo antecessor.

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    Ter um vice com DNA bolsonarista na chapa é fundamental para Crivella. Mas a principal dificuldade enfrentada hoje é convencer Jair Bolsonaro a escolher um nome imediatamente. Nos bastidores, VEJA apurou que o presidente acredita ser cedo para a decisão. Bolsonaro ainda não formalizou seu apoio à reeleição do prefeito, embora seus filhos tenham se filiado à legenda de Crivella. Bolsonaro, inclusive, proibiu o ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca, atual secretário municipal de Ordem Pública (Seop), até então cotado para vaga, de se apresentar neste momento em nome do clã para o cargo. O veto provocou saia-justa. Cogitou-se até a indicação da ex-vereadora Rogéria Bolsonaro, ex-mulher de Jair e mãe de Flávio, do vereador Carlos e do deputado federal Eduardo. No entanto, isso nunca foi confirmado pelos estrategistas do bispo da Universal.

    O adiamento das eleições municipais de outubro para novembro (dia 15, o primeiro turno, e, 29, o segundo) foi bem visto por Crivella. Na avaliação da pré-campanha, o prefeito terá mais tempo para mostrar que é o “candidato do Bolsonaro”. O temor do bispo e de sua equipe é a fama de mau gestor que ele ganhou nos últimos anos. Neste caso, agendas positivas são a prioridade, entre elas a de aparecer na mídia gerindo crises provocadas pela Covid-19. Em maio, por exemplo, Crivella foi pessoalmente recepcionar a chegada de respiradores vindos da China. Ele entrou no avião da Latam, gravou vídeos e os divulgou nas redes sociais. Um dos aparelhos, comprados com dinheiro público, estava embrulhado para presente, com direito a laço de fita vermelha.

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    Em abril, Crivella anunciou que pediria ao juiz José Eduardo Nobre Matta, da 9ª Vara Federal Criminal, para que parte do dinheiro recuperado pela Operação Lava-Jato fosse usado no complemento da renda de trabalhadores dos transportes públicos prejudicados pelo coronavírus. Em delação premiada à Lava-Jato, porém, Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor (federação que representa as empresas de ônibus no estado), disse que o ex-tesoureiro de Crivella, Mauro Macedo, pediu “apoio financeiro” de 2,5 milhões de reais para a campanha do então candidato em 2016 por meio de caixa dois. No depoimento, Teixeira disse ainda que os acordos ocorriam desde a candidatura de Crivella ao Senado, em 2004, e em 2010.

    Já o doleiro Sérgio Mizhay, preso na Lava-Jato em 2018, apontou o empresário Rafael Alves como operador de um suposto esquema de propina na Prefeitura do Rio em troca da liberação de pagamentos a empresas credoras do município. O Ministério Público abriu inquérito para investigar. Rafael é irmão do ex-presidente da Riotur Marcelo Alves. O empresário foi homem de confiança de Crivella. Ele ajudou o então candidato a prefeito a conseguir doações em dinheiro para a campanha também em 2016. Após a vitória nas urnas, Crivella nomeou Marcelo para comandar a Empresa Municipal de Turismo. O prefeito nunca confirmou as irregularidades e disse ser a favor das investigações.

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