A imprevisibilidade das eleições em Minas Gerais não se repetiu neste ano. O prefeito Alexandre Kalil (PSD) confirmou o favoritismo e foi reeleito prefeito de Belo Horizonte, com 63,6% dos votos. Com 99,77% das urnas apuradas, o candidato Bruno Engler (PRTB), que recebeu apoio do presidente Jair Bolsonaro, ficou em segundo lugar, com 9,95% dos votos.
À frente nas pesquisas eleitorais ao longo de toda campanha, Kalil recorreu à tática do “jogar parado”. Faltou ao único debate eleitoral que teve na televisão e não foi às ruas pedir voto. Ao invés de sair com fama de “fujão”, a pandemia de Covid-19 lhe deu um ótimo pretexto para evitar a exposição. Não poucas vezes disse que o seu maior inimigo era ele mesmo.
De fato, os seus adversários demonstraram ter pouco poder de fogo – e a profusão deles, 14 ao todo, beneficiaram o prefeito ex-presidente do Atlético Mineiro, que era de longe o candidato mais conhecido da capital. Os concorrentes centraram os ataques em três pontos – as medidas de restrição contra a Covid-19, que fecharam as portas de empresas e comércios, a falta de ações preventivas para enfrentar as chuvas torrenciais que mataram 19 pessoas no início do ano e a transformação do “outsider político” de 2016 no prefeito do PSD, que montou um governo com gente do PSDB e PT e formou coligação com MDB, PP e PDT.
Nenhuma crítica abalou a sua imagem. Pelo contrário, ele utilizou os três temas para se promover. Propagandeou que Belo Horizonte teve a menor taxa de mortes por Covid-19 entre outras capitais, que reconstruiu a cidade em tempo recorde após as enchentes, e que, apesar de agora integrar o establishment, não trocou nenhum cargo por apoio político.
Antes do início das eleições, a popularidade de Kalil já era superior a 50%, atribuída sobretudo a ações no setor de transportes, como o congelamento das tarifas e a renovação da frota; e na área social, como pagamento de uma bolsa à população em situação de extrema pobreza. O prefeito não deixou nenhuma grande marca na sua gestão, mas manteve as contas em dia – o que foi considerado uma proeza, uma vez que o estado de Minas Gerais precisou parcelar salários do funcionalismo e pedir socorro ao governo federal.
Especialistas destacam como outro trunfo a forma direta de se comunicar do prefeito conhecido pelo jeito falastrão, Ao invés de se exibir sorrindo em meio à multidão como os adversários, ele apareceu nos programas na TV e nas redes de cara amarrada na sua casa, repetindo o mantra de que não iria prometer nada que não pudesse cumprir.
Aliás, uma das poucas promessas que ele fez em 2016 não foi cumprida até agora – a de pagar uma dívida de 243.000 reais de IPTU que têm com a própria prefeitura que comanda. Com patrimônio declarado de 3,6 milhões de reais, ele agora terá a oportunidade de regularizar o débito antes de tentar alçar voos maiores na política.
Com a larga vantagem para os adversário, Kalil sai da eleição de 2020 como candidatíssimo ao governo de Minas em 2022. Publicamente, ele nega a pretensão, mas seus aliados não escondem a euforia e já o apontam até como um dos candidato à Presidência da República. Questionado hoje sobre se promete ficar o segundo mandato inteiro como prefeito, ele desconversou: “Eu não faço compromisso com ninguém,muito menos que vou ficar 2 ou 4 anos. Mas eu não sento numa cadeira pensando em outra”.