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Os três embates entre Lula e a nova juíza da Lava Jato

Ex-presidente e magistrada tiveram momentos de tensão logo no início e no final de interrogatório sobre sítio de Atibaia (SP)

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 nov 2018, 20h52 - Publicado em 14 nov 2018, 22h04
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  • Assim como o juiz federal Sergio Moro, que deixará a magistratura para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, a juíza federal substituta Gabriela Hardt também teve embates com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ficar frente a frente com ele durante uma audiência de processo da Operação Lava Jato.

    No interrogatório de Lula na ação envolvendo o sítio de Atibaia (SP), nesta quarta-feira, 14, foram três os momentos de tensão entre o petista e a magistrada. A existência do sítio de Atibaia e os favores da Odebrecht a Lula foram reveladas em 2015 por VEJA.

    Logo no início do depoimento, a juíza perguntou se o ex-presidente sabia do que era acusado no processo. Lula respondeu que não e gostaria que ela explicasse. Gabriela, então passou a citar as acusações pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por suposto recebimento de propinas de empreiteiras por meio de obras na propriedade do interior paulista.

    O petista, em seguida, replicou: “Eu sou dono do sítio ou não?”. Do outro lado, Gabriela Hardt deu uma resposta ríspida. “Isso é o senhor que tem que responder não eu, doutor, e não estou sendo interrogada nesse momento. Senhor ex-presidente, esse é um interrogatório, e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo, eu sou a juíza do caso e vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido para que eu possa sentenciá-lo ou algum colega possa sentenciá-lo”, cortou.

    O advogado Roberto Batochio, que defende Lula, interrompeu a altercação e alegou que o ex-presidente poderia se manifestar como quisesse. A magistrada rebateu: “ele responde respondendo e não fazendo perguntas ao juízo ou à acusação”.

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    “Pelo que eu sei é meu tempo de falar”, afirmou Lula, que ouviu de Gabriela que “é o tempo de responder minhas perguntas, não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui, está claro? Está claro que não vou ser interrogada?”.

    O petista ainda disse que “não imaginou” que seria assim. A juíza replicou: “eu também não imaginava, então vamos começar com as perguntas, eu já fiz um resumo da acusação e vou fazer perguntas, o senhor fica em silêncio ou o senhor responde”.

    ‘Instigando’ petistas

    O segundo embate entre Lula e Gabriela Hardt ocorreu já no final do interrogatório, quando o ex-presidente criticou o famoso PowerPoint utilizado pelo Ministério Público Federal (MPF) ao apresentar a denúncia contra ele no caso do tríplex do Guarujá (SP).

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    “Eu, se fosse presidente do PT, pediria para que todos os filiados do PT no Brasil inteiro, prefeitos, deputados, abrissem processo contra o Ministério Público para ele provar o PowerPoint”, cutucou.

    A juíza não gostou nada da sugestão do petista e disse que ele estava “intimidando” os procuradores. “O senhor está intimidando a acusação assim, senhor presidente. Por favor vamos mudar o tom, o senhor está intimidando, está instigando e está intimidando a acusação. Eu não vou permitir. O senhor não fale isso de novo, o senhor está estimulando os filiados ao partido a tumultuarem o processo e os trabalhos, se isso acontecer o senhor será responsável”, repreendeu Gabriela.

    Após uma breve intervenção de Cristiano Zanin Martins, outro defensor do ex-presidente, a magistrada continuou a bronca: “você tumultuar a Justiça por meio de diversas ações que você tem que responder, contestar, prestar informação, isso é intimidar, porque nos tira do nosso trabalho diário para ter que ficar respondendo intimações, informações e questões que não são pertinentes”.

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    A ‘amizade’ entre Moro e Youssef

    O terceiro e último momento de tensão entre réu e juíza aconteceu pouco após o segundo, já na fase de perguntas do próprio Zanin a Lula. O advogado questionava o petista sobre o processo de escolha de diretores de estatais e o ex-presidente disse que a Lava Jato inovou ao investigar os processos de indicações na Petrobras. Aproveitou, então, para dizer que a “novidade” talvez se devesse à “amizade” entre Sergio Moro e o doleiro Alberto Youssef.

    “No caso da Petrobras, houve essa questão de jogar a suspeita sobre a indicação de pessoas. É triste, mas é assim, possivelmente por conta de que o delator principal é Youssef, que era amigo do Moro desde o caso do Banestado”, criticou.

    Sem se dirigir a Lula, mas a seu advogado, Gabriela Hardt respondeu que “ele não vai fazer acusações a meu colega aqui”.

    “Não estou acusando, estou constatando um fato”, rebateu Lula. “Não é um fato, porque o Moro não é amigo do Youssef, nunca foi”, afirmou a magistrada na tréplica. “Mas manteve ele sob vigilância oito anos”, insistiu o petista. “Ele não ficou sob vigilância oito anos e é melhor o senhor parar com isso”, advertiu Gabriela.

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