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Os bastidores da chegada de Boulos à Esplanada, após atuação apagada na Câmara

A escolha do radical esteve longe de receber aprovação unânime entre a esquerda

Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 out 2025, 11h12 - Publicado em 24 out 2025, 06h00

Na manhã de sábado, 7 de abril de 2018, um abatido Lula se preparava para ser preso pela Lava-Jato, quando discursou à militância no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, seu berço político. O primeiro ato foi chamar o líder do movimento de sem-teto, Guilherme Boulos, então pré-candidato à Presidência pelo PSOL e um dos articuladores da mobilização que cercou o local por dois dias. “Boulos tem 35 anos. Eu tinha 33 quando fiz minha primeira greve. É um companheiro da mais alta qualidade. Você tem futuro, meu irmão”, afirmou. O gesto foi entendido como uma passagem simbólica de bastão de Lula, que saía melancolicamente de cena, mas isso, porém, não se confirmou. Como se sabe, o petista deu a volta por cima. Enquanto isso, Boulos parecia cumprir a profecia de ascensão.

Deu tudo errado para ele, mas Lula renovou a aposta em Boulos, ao conduzi-lo à Secretaria Geral da Presidência. Escolhido para suceder a Márcio Macêdo (PT), ele terá a missão de “colocar o governo na rua”. “Vamos rodar o Brasil, conversar com nosso povo, ouvir as demandas populares, apresentar aquilo que o governo tem feito”, disse o novo ministro. Segundo o entorno do presidente, Boulos vinha pedindo esse espaço a Lula desde o começo do ano. Dizia que se sentia um peixe fora d’água no Congresso. O padrinho finalmente atendeu ao apelo e, assim, Boulos terá mais uma chance para tentar se provar uma liderança nacional de esquerda.

ACENO - Com Manuela d’Ávila, no ABC, antes da prisão de Lula: elogios do petista
ACENO - Com Manuela d’Ávila, no ABC, antes da prisão de Lula: elogios do petista (Marlene Bergamo/FolhaPress/.)

Em 2020, ele surpreendeu na corrida à prefeitura de São Paulo, quando chegou ao segundo turno contra Bruno Covas. Dois anos depois, foi o deputado federal mais votado pelos paulistas. O primeiro grande revés ocorreu em 2024, em nova tentativa de chegar ao comando da maior metrópole do país. Com o apoio ostensivo de Lula, de ministros, do PT (que pela primeira vez não teve candidato) e com a campanha mais cara do país (65 milhões de reais), sofreu para ir ao segundo turno e perdeu por vinte pontos de diferença para Ricardo Nunes (MDB). No Congresso, aprovou só um projeto — o que fixa que agosto é o “mês de combate às desigualdades”. Não liderou comissões, e sua participação se limitou a discursos no plenário. De quebra, manchou o currículo: como relator no Conselho de Ética, arquivou investigação de rachadinha contra o aliado André Janones, que depois admitiu a prática e devolveu o dinheiro.

Na Esplanada, uma das tarefas de Boulos será suprir a lacuna deixada pelo esvaziamento do movimento sindical e pela perda de conexão do petismo com os trabalhadores. Não por acaso, o início da queda de Macêdo se deu no 1º de Maio de 2024, no estádio do Corinthians, quando apenas um número reduzido de companheiros atendeu ao chamado. “Márcio, esse ato foi mal convocado”, reclamou Lula. Líder do MTST há mais de uma década e fundador de grupos como a Frente Povo sem Medo, Boulos já divulgou a agenda inicial: defesa do fim da escala de trabalho 6×1 e da melhoria das condições de trabalho de motoristas de aplicativos, além de divulgar a isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 000 reais, tarefas que historicamente ficariam a cargo de aliados no sindicalismo, como a CUT. O histórico recente mostra, no entanto, que Boulos e aliados têm tido dificuldade para levar gente às ruas, como no 7 de Setembro, quando moblizou 9 000 pessoas em São Paulo contra 42 000 do lado bolsonarista.

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VAZIO - 1º de Maio em 2024 em SP: baixo público gerou crítica a Márcio Macêdo
VAZIO - 1º de Maio em 2024 em SP: baixo público gerou crítica a Márcio Macêdo (Edi Sousa/Ato Press/Folhapress/.)

A escolha de Boulos para a Esplanada esteve longe de receber aprovação unânime entre a esquerda. Alas do PT perderam o encanto por ele após o fiasco da campanha de 2024. O PSOL contava com ele para disputar novo mandato parlamentar em 2026, algo que parece agora fora dos planos de Boulos. “Ele seria um excelente nome para a disputa, em especial para o Senado”, diz Paula Coradi, presidente da sigla. Ela, no entanto, apoia a ida para o governo. “Vai contribuir para organizar novas mobilizações sociais a favor da agenda que interessa ao povo brasileiro e contra as ofensivas da extrema direita e do Centrão”, afirma.

A instalação de Boulos no 4º andar do Planalto representa uma inflexão de Lula. Liderando um governo com onze partidos, o presidente está convencido de que não terá o apoio de parte das legendas de centro (veja a reportagem na pág. 32). Com isso, aposta na mobilização nas ruas e nas redes calcada em uma agenda populista. “Acabou o discurso de frente ampla”, ironiza o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante. Com Boulos, Lula investe ainda na formação de um núcleo duro no Planalto: ali já haviam se instalado a ex-­presidente do PT Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e o ex-marqueteiro de 2022, Sidônio Palmeira (Secom). Boulos pode ter como trunfo a capacidade de mobilização, mas também tem um histórico de controvérsias, com direito a invasões de propriedades e prédios públicos. A imagem de radical foi reforçada pela defesa de ditaduras, como a da Venezuela, e do Hamas. Se Lula queria agitação na Esplanada e na campanha para 2026, é preciso reconhecer: escolheu a dedo um ministro do barulho.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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