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Operação do Ibama em área indígena gera confusão com militares

Após protesto de garimpeiros, Ministério da Defesa suspende operações contra pontos de extração de ouro na floresta e depois retoma as ações

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 ago 2020, 14h41 - Publicado em 8 ago 2020, 08h55
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  • Uma megaoperação do Ibama contra um garimpo ilegal na terra Munduruku, no Oeste do Pará, na última quarta-feira, dia 5, provocou confusão com a ala militar do governo Jair Bolsonaro, que coordena por meio do vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, uma ação paralela para combater o desmatamento na Amazônia.

    A ação do Ibama destruiu e incendiou cerca de 25 retroescavadeiras, tratores e bombas de água numa área de extração de ouro na bacia do rio Tapajós – e foi celebrada como um “sucesso” pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que acompanhou os trabalhos e fez uma ofensiva para reverter a imagem de que é contrário à fiscalização ambiental.

    Indignados com a queima do maquinário, que custa milhões de reais, os garimpeiros organizaram um protesto no aeroporto de Jacaraecanga (PA), cidade onde fica o garimpo e onde as aeronaves da equipe do Ibama e do ministro pousaram para reabastecer. Apoiados por um carro de som que chamava a população ao ato, o grupo levantou faixas de protesto contra a Operação Verde Brasil 2, das Forças Armadas, liderada por Mourão. Um dos manifestantes chegou a dizer a Salles que “não foi essa conversa que tivemos em Brasília”. Diante da plateia formada majoritariamente por indígenas favoráveis à extração mineral, o ministro aproveitou para defender o projeto do governo Bolsonaro de regularizar o garimpo em reservas indígenas, que foi apresentado em fevereiro, mas está paralisado no Congresso.

    Após o helicóptero do ministro levantar voo, os manifestantes invadiram a pista e houve até gente que ameaçou queimar a mata em volta. No local, havia um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) prestes a decolar, que foi impedido pelos manifestantes. Começou a partir daí uma negociação para liberar o aeroporto.

    A operação na terra Munduruku, que foi acompanhada por VEJA, contou com quatro helicópteros do Ibama e da FAB (Força Aérea Brasileira) e um efetivo de trinta homens do órgão ambiental. As aeronaves foram pilotadas por militares e partiram do Campo de Provas Brigadeiro Velloso, que fica na Serra do Cachimbo – foi lá onde toda a ação foi planejada um dia antes. Salles chegou a conversar duas vezes por telefone com o ministro da Defesa antes da operação contra o garimpo ilegal.

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    Após a confusão no aeroporto, o Ministério da Defesa suspendeu o apoio às equipes do Ibama, que voltariam a fiscalizar os garimpos na região na quinta-feira, dia 6. Em nota, o Ministério da Defesa informou que as operações na terra dos Munduruku foram “suspensas para avaliação de resultados”. Para resolver o imbróglio, o avião da FAB, que estava bloqueado, levou cinco indígenas representantes dos garimpeiros para se reunir com Salles e militares, em Brasília.

    Após o ocorrido, o Ministério Público Federal do Pará e o Partido Verde entraram com uma ação contestando a suspensão das operações de combate ao garimpo ilegal na região. O Ministério da Defesa, então, enviou uma nova nota nesta sexta-feira, dia 7, anunciando a retomada das operações e ressaltando que a Operação Verde Brasil 2 “permanece ativa e atuante em toda a Amazônia Legal”.

    Áudios obtidos por VEJA em grupos de WhatsApp de garimpeiros mostram a indignação com a ação do Ibama na quarta-feira. Eles falam em cada um doar 100 gramas de ouro para comprar fuzis para atirar contra os fiscais. “Vão pensar duas, três vezes antes de encostar perto de um garimpeiro. (…) Por que não mete chumbo num federal desses?”, diz as mensagens. E se queixam de o governo não usar a mesma repressão contra os fazendeiros de soja e gado. “O governo não tem dó da gente, quer ver o cara f… mesmo. Se for botar nós extraindo minério, rende mais do que um fazendeiro do que um plantador de soja e a gente não faz a mesma devastação que eles. Eles têm que enxergar esse lado”.

    Não é a primeira vez que o Ibama se desentende com os militares. Numa carta enviada a Mourão, no fim de julho, mais de 500 servidores do órgão ambiental falam em perda de protagonismo para as Forças Armadas, que, segundo eles, gastam bem mais para realizar o trabalho que eles fazem há anos. A operação militar Verde Brasil 2 é uma das principais vitrines apresentadas pelo governo Bolsonaro para dar uma resposta a investidores estrangeiros que estão descontentes com a alta do desmatamento na Amazônia.

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