Em colaborações premiadas à Justiça, 78 executivos e ex-executivos do grupo Odebrecht informaram uma série de doações eleitorais – oficiais e não oficiais – para candidatos e partidos políticos, que ultrapassaram 450 milhões de reais. Em troca, uma série de contrapartidas, como a defesa de interesses da empreiteira e a aprovação de projetos de lei. Revelado por Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, um pedido surpreende: o grupo Odebrecht pediu que o candidato do PSC à Presidência da República em 2014, Pastor Everaldo, ajudasse Aécio Neves (PSDB) em um debate presidencial daquele ano.
De acordo com o depoimento de Reis aos procuradores, o valor pago pela companhia ao religioso – seis milhões de reais em caixa 2, como adiantado pela coluna Radar On-Line no mês passado – foi considerado desproporcional para o desempenho eleitoral do candidato nas pesquisas, “uma contribuição muito grande para quem tem pouco para dar”.
A solução foi o pastor colaborar de outra forma. “Como a gente se sentia credor por ter contribuído tanto para a campanha dele, nós sugerimos que usasse o debate sempre para perguntar ao candidato Aécio porque aí daria mais tempo ao Aécio. E analisando a transcrição do debate do primeiro turno se nota que ele fez perguntas absolutamente simples e inócuas para que o candidato Aécio pudesse ter tempo na televisão”, afirmou.
Fernando Reis contou que conheceu Pastor Everaldo a partir de uma indicação do então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e que, no sistema de pagamentos irregulares da empreiteira, ele era identificado pelos codinomes “Zelota” e “Aquário 2”. Questionado se o tucano era o candidato da Odebrecht, o executivo afirmou desconhecer que a construtora tivesse um nome de preferência, mas que a intenção neste momento era que o segundo turno tivesse a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o nome do PSDB.
Outro lado
Em nota enviada ao site de VEJA, a assessoria do PSDB afirmou que o senador Aécio Neves participou de todos os debates e respondeu às perguntas de todos os candidatos. Ele declarou também que “sabidamente a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff foi a principal beneficiada com recursos da empresa Odebrecht em 2014. Marcelo Odebrecht informou o pagamento de pelo menos 150 milhões de reais para a campanha da ex-presidente”.
O senador afirmou que não tinha conhecimento sobre doações da Odebrecht para outras campanhas. “Registramos ainda que, em suas delações, Marcelo Odebrecht e Benedicto Júnior afirmaram que o candidato do PSDB não recebeu uma contribuição da empresa no valor de 15 milhões porque se recusou a receber recursos no exterior”, diz a nota.
O Pastor Everaldo não foi encontrado para comentar as novas acusações. Em nota publicada em suas redes sociais, o PSC afirma que “todas as doações recebidas pela campanha do Pastor Everaldo, em 2014, obedeceram à legislação vigente” e que o partido “reafirma seu compromisso com a ética na política e sua confiança na Justiça, que obrigará as pessoas envolvidas em acordos de colaboração a comprovar as supostas acusações”. Pelo twitter, o religioso questionou os valores apontados, alegando que a “campanha de 2014 custou menos de dois milhões. É um absurdo alguém dizer que recebi seis milhões.”