Profissionais que atuam como conselheiros e advogados da família Bolsonaro acreditam que a implosão de pontes do ex-presidente com o Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo dos quatro anos de governo daria ao capitão, a preço de hoje, apenas um apoio claro na Corte que deve julgá-lo sob a suspeita de ter coordenado uma trama golpista para levar o país à ruptura institucional e à reversão do resultado das últimas eleições presidenciais.
Em toda a gestão Bolsonaro integrantes do tribunal reclamavam não poderem contar com nenhum interlocutor junto ao então presidente – seja porque o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, hoje também investigado por golpe, não tivesse qualquer trânsito na Corte, seja porque o então advogado-geral da União Bruno Bianco contava com a antipatia de alguns magistrados.
Embora tenha indicado dois juízes para o STF – o desembargador Kássio Nunes Marques e o ex-ministro da Justiça André Mendonça – apenas Mendonça, de perfil conservador, seria contabilizado como ainda de claro alinhamento a Bolsonaro quando a Corte se debruçar sobre as acusações de fraude em cartões de vacina, desvio de joias do Estado brasileiro e a mais importante dela, a suspeita de, sob a falsa imputação de fraude nas urnas eletrônicas, ter tramado um golpe de Estado.
Na avaliação do entorno do ex-presidente, Nunes Marques, nomeado pelo ex-presidente em 2020, é mais pragmático, já contou com a simpatia – e a indicação do PT – para ascender no Judiciário e, conforme mostrou VEJA, tem se aproximado do decano do tribunal, Gilmar Mendes, interlocutor junto ao governo, e do próprio presidente Lula.
Neste último caso, incumbiu ao aliado Wellington Dias, atual ministro do Desenvolvimento Social, a missão de construir um canal de diálogo com o Planalto. Por trás do pretenso afastamento de Kássio do bolsonarismo estão fatores como ele ter mais de 20 anos de Supremo pela frente e de ser o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2026, a primeira corrida desde que Bolsonaro foi considerado inelegível.
Apesar do diagnóstico de que haveria sinais de distanciamento daqueles que o alçaram a ministro do STF, Kássio é detentor de votos emblemáticos em favor de teses caras à administração Bolsonaro. Foi dele, por exemplo, a afirmação de que os atos de quebra-quebra do dia 8 de janeiro de 2023, episódio que investigadores consideram consequência clara do planejamento golpista do antigo governo, “não tiveram alcance de abolir o Estado Democrático”.