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O temor de Alexandre de Moraes com explosão da violência política

Vice-presidente do TSE, ministro vai conduzir as eleições 2022. Ele diz que "há muito discurso de ódio, muita agressão e ameaça de morte"

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Rafael Moraes Moura 4 abr 2022, 10h36
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  • No mês passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou a compra de dois veículos especiais à prova de balas, por mais de 800 mil reais. São carros especiais para o transporte e a escolta dos ministros da Corte durante as eleições. Outra iniciativa do tribunal foi a compra de grades de aço para cercar o prédio, com o objetivo de “neutralizar ameaças e atos de violência” durante o pleito. Os ministros temem que o aumento da polarização política entre os apoiadores de Bolsonaro e Lula tenha reflexos na campanha, com a proliferação de distúrbios nas ruas e invasão das dependências da Corte. Há inclusive temor entre os ministros que o clima de guerra transborde para manifestações iguais à da invasão do Capitólio nos Estados Unidos, em janeiro de 2021.

    Vice-presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, que vai assumir a presidência da Corte em agosto e vai conduzir o processo eleitoral, alertou recentemente para o aumento das agressões, durante conversa reservada com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, integrantes do tribunal e advogados que estão cuidando da campanha de Bolsonaro. Moraes disse que a Corte já identificou nas últimas semanas uma piora do clima político nas redes sociais. “Estão se ouriçando um pouco demais, com muito discurso de ódio, muita agressão, tem alguns Estados com ameaça de morte para quem quer sair candidato”, lamentou Moraes. “Está piorando. Nossa ideia é combater firme”.

    As agressões entre apoiadores de Lula e Bolsonaro já ocuparam as ruas de algumas cidades. A partir de fevereiro, começaram a surgir uma série de mensagens agressivas em outdoors contra Lula no Mato Grosso e Rondônia e contra Bolsonaro em São Paulo e Minas Gerais. Alguns dos ataques ao presidente da República foram espalhados por um movimento que se auto intitula “Fora Bolsonaro”. Contra Lula, os manifestantes se identificam como sendo do “Movimento Conservador”. São nomes que escondem todos os tipos de radicais. Em alguns casos, há intervenção do Judiciário. No mês passado, a Justiça Eleitoral mandou retirar um outdoor com ofensas a Lula em Ariquemes (RO).

    O clima de hostilidade generalizada não ficou restrito aos outdoors – e já se materializa em agressão física. Exemplo: no dia 13 de março, a servidora pública Luciana Fontenele foi a um bar, em Brasília, e acabou agredida por frequentadores após defender o nome de Bolsonaro. Alguns frequentadores gritaram “Fora Bolsonaro” e ela gritou “Fica Bolsonaro”. Professora de yoga, ela diz que teve de passar por um verdadeiro corredor polonês, com agressões físicas e verbais. Luciana diz que levou uma gravata, foi jogada ao chão e arrastada. “Desamarraram meu macacão, queriam me deixar nua”, lamenta Luciana. Ela registrou ocorrência na delegacia. A direção do bar admitiu que houve excessos e pediu explicações à segurança, que é terceirizada. Parte da violência contra Luciana foi filmada e postada nas redes sociais.

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    A servidora Luciana Fontenele foi agredida em um bar em Brasília após defender Bolsonaro (reprodução/Reprodução)
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    O clima de polarização tem sido marcado nas ruas, com riscos de confrontos entre as torcidas formadas em torno de cada candidato. No mês passado, o ex-presidente Lula foi a Londrina, para participar de um encontro fechado em um assentamento do MST. Dezenas de pessoas, apoiadores de Bolsonaro, foram para as ruas para xingar Lula.  A polícia teve de intervir para proteger Lula e separou os manifestantes em lados opostos das ruas. Bolsonaro também começou a ouvir alguns xingamentos isolados em suas viagens para os estados, onde só recebia mensagens de carinho. Muitos candidatos já não saem mais em público. Lula teve mais de 20 encontros desde janeiro com plateias identificadas. Bolsonaro é um dos poucos candidatos de projeção nacional que ainda sai às ruas e cumprimenta todos os cidadãos, mas com a proteção dos homens do Gabinete de Segurança Institucional e da Polícia Federal.

    Há outros indícios de que esta eleição polarizada poderá descambar para mais violência. No dia 2 de março, a sede do PT em Campinas foi alvo da segunda invasão em menos de um mês. Equipamentos eletrônicos, fiações e acervo foram destruídos. O partido denunciou o que considerou ser um atentado. No dia 15, Lula afirmou durante entrevista a uma rádio em Patos (PB) que tem preocupação com a possibilidade de ser assassinado durante a campanha. Ele tem motivos para isso. Em março de 2011, a polícia identificou em São Paulo um empresário como o homem que postou vídeo nas redes sociais com camiseta do Brasil e a Bandeira Nacional enrolada na cintura, portando arma na mão. No vídeo, com uma arma na mão, ele diz que Lula teria problema se não devolvesse dinheiro do fundo de pensão dos trabalhadores. A família Bolsonaro também tem motivos para criticar o clima de violência na campanha. Bolsonaro até hoje não se conformou com o fato de a Polícia Federal não ter descoberto o suposto mandante do crime. Bolsonaro vem insistindo há mais de três anos em ressuscitar o caso para atingir o PT – Adélio foi filiado ao Psol, partido que faz coligações com o PT.

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    Sede do PT foi invadida em Campinas (SP) (reprodução/Reprodução)

    Nas eleições de 2020, o país registrou 85 assassinatos de candidatos ao longo do ano eleitoral, que concorriam a cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, segundo levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. “A violência com a qual a política brasileira está acostumada são as disputas regionais, mais paroquiais e não menos violentas no interior. Eleição para vereador é faroeste”, aponta a procuradora da República e professora de direito eleitoral da FGV Rio, Silvana Batini. “A polarização acirrada no Brasil pode abrir uma nova espécie de violência política numa escala mais generalizada e mais ideológica. É preocupante. A classe política precisa segurar essa onda, apaziguar os ânimos e conduzir esses confrontos para uma discussão propositiva na campanha eleitoral.”

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