O tamanho da mágoa de Lula em relação a Dias Toffoli
Veto à presença em velório do irmão ampliou o abismo entre o presidente e o ministro

Afastado do presidente Lula há anos, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Antonio Dias Toffoli dizia a interlocutores desde o início do ano que a relação com o petista dava sinais de que começava a distensionar. Nos meses que se seguiram, ele proferiu uma série de decisões que agradavam a Lula, como distribuir aos investigados no petrolão a coletânea de mensagens hackeadas que mostram o dia a dia controverso da Operação Lava-Jato, e determinar o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Durán, conhecido desafeto de Sergio Moro e que diz ter provas de ilicitudes praticadas pelo ex-juiz.
Na quarta-feira, 6, véspera do feriado de Sete de Setembro, o ministro decidiu, monocraticamente, anular todas provas colhidas no acordo de leniência da antiga Odebrecht e ainda determinar que órgãos como a Advocacia-geral da União, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Ministério da Justiça coloquem o aparato estatal no encalço de procuradores e do hoje senador Moro em busca de ilegalidades.
Petistas de proa não têm tanta certeza de que a decisão anti-Lava-Jato terá o condão de reacender a amizade que havia levado o magistrado a ser escolhido ministro do Supremo em 2009, porque a mágoa de Lula, dizem, é muito grande. O mais conhecido motivo de ressentimento na relação entre os dois é o veto à ida do presidente, então preso por ordem da Lava-Jato, ao velório do irmão Vavá, morto em 2019.
Com o despacho que jogou no lixo provas que reuniam a lista de políticos beneficiados por propina da Odebrecht e ao atribuir à Lava-Jato, em letras garrafais, o papel de “pau de arara do século XXI” na caça a “inocentes”, Dias Toffoli deu mostras de que quer apagar em definitivo as rusgas com Lula.