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O recado internacional de Bolsonaro para a sua base no ano eleitoral

Presidente embarca na próxima semana para Rússia e Hungria a fim de se reunir com governantes autoritários que estão há décadas no poder

Por Letícia Casado 6 fev 2022, 19h05
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  • No começo de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou durante uma transmissão em redes sociais que faria uma viagem à Rússia a convite do presidente Vladimir Putin. Na véspera, Putin participou de uma cerimônia de entrega de credenciais a embaixadores em Moscou e disse que ficaria feliz em ver o brasileiro a fim de fortalecer a cooperação bilateral. Programada para os dias 14 a 17 de fevereiro, Bolsonaro vai embarcar em um dos momentos de maior tensão na história contemporânea, em que a Rússia desloca tropas até a fronteira da Ucrânia, antigo território da União Soviética, e mede forças com os Estados Unidos. Depois, o chefe do Executivo segue para a Hungria, onde vai se reunir com o primeiro-ministro Viktor Orbán.

    “Bolsonaro vai visitar dois autocratas, homens que governam sem democracia. Ele reforça a imagem que já tem no mundo, de inimigo da democracia, alguém que patrocina esses regimes ditatoriais e autoritários”, diz Rubens Ricupero, diplomata de carreira que ocupou cargos como embaixador do Brasil em Washington e de subsecretário-geral da ONU. O rótulo de “pária internacional” ronda o presidente, que costuma elogiar autocratas como Putin, que comanda a Rússia desde o último dia de 1999, e Orbán, à frente da Hungria desde 2010. 

    O itinerário de Bolsonaro é visto como um aceno à sua base ideológica mais radical no ano em que pretende tentar a reeleição. No fim de janeiro, ele confirmou a apoiadores que se reuniria com Putin: “Ele é conservador sim. Vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente” . Frequentemente citado por bolsonaristas influentes como exemplo de gestor, Viktor Orbán tem intensificado conflitos com a União Europeia por implementar medidas de extrema-direita. No ano passado, por exemplo, convocou um referendo sobre uma nova lei que equipara gays a pedófilos e proíbe a “demonstração e promoção da homossexualidade” para menores de 18 anos – o que, na prática, veta a mera menção a gays nas escolas e na TV. 

    Desde o início do mandato, Bolsonaro tem se isolado no cenário internacional, em especial por causa da condução do governo em políticas ambientais que provocaram aumento considerável na destruição da floresta amazônica ao longo dos últimos três anos. O brasileiro criticou a ex-chanceler alemã Angela Merkel, envolveu-se em diversas crises com o presidente francês Emmanuel Macron e ficou ao lado de Donald Trump quando ele contestou a vitória eleitoral de Joe Biden nas eleições americanas, além de ter atacado inúmeras vezes a China. Em contraste com a imagem de Bolsonaro no exterior, o ex-presidente Lula (PT) fez um périplo na Europa em novembro, se reuniu com vários líderes e foi aplaudido no Parlamento europeu após fazer um discurso. 

    “Bolsonaro está isolado internacionalmente e seus fracassos diplomáticos certamente serão utilizados contra ele no contexto eleitoral. Vale lembrar que seu principal concorrente, o ex-presidente Lula, tem um legado significativo em política externa — e o contraste entre os dois governos chama a atenção”, diz o cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em relações internacionais.

    Mesmo que viagens internacionais possuam uma carga mais simbólica que prática, é importante para Bolsonaro demonstrar trânsito entre as grandes lideranças mundiais, conferindo-lhe uma aura de estadista que pode ser capitalizada, seja em acordos de comércio e investimento, seja em fotos e frases de efeito para a campanha”, acrescenta. A corrida presidencial no Brasil ainda não começou oficialmente, mas os dois líderes nas pesquisas já se preparam com material internacional para seduzir o eleitorado por aqui.  

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