O que Sergio Moro tem dito às lideranças evangélicas
O ex-juiz se apresenta como conservador moderado e promete não mexer na legislação sobre aborto. Na próxima semana, se encontra com o pastor R.R. Soares
Crucial para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, os evangélicos representam uma fatia de 31% do eleitorado brasileiro, de acordo o Datafolha. Os desacertos do chefe do Executivo em três anos de governo, marcados pela má condução dos efeitos da pandemia e pela deterioração dos indicadores econômicos, levaram ao derretimento da popularidade do presidente, inclusive nesse segmento conservador. De olho no voto dos “ arrependidos”, o ex-juiz Sergio Moro tem feito uma verdadeira peregrinação com lideranças evangélicas, se reunindo até aqui com mais de 40 representantes de diferentes vertentes, como batistas, presbiterianos, metodistas e adventistas. E a lista vai aumentar.
O próximo encontro de peso de Moro deve ocorrer no próximo dia 28, no Rio de Janeiro, com o pastor R. R. Soares, influente líder da Igreja Internacional da Graça de Deus. O movimento é uma forma de se aproximar dos neopentecostais, que ainda seguem fiéis a Bolsonaro. Nas conversas com evangélicos, Moro se apresenta como um “conservador moderado”, sem radicalismos, e defende uma visão de país mais justo – com a construção de uma aliança programática, em torno de princípios e valores, em contraposição ao “toma lá, dá cá” dos governos do PT e de Bolsonaro.
O presidenciável do Podemos também aborda assuntos espinhosos da chamada “pauta de costumes”, prometendo não mexer na legislação sobre o aborto. Destaca o enfrentamento ao crime organizado à época em que comandou o Ministério da Justiça e Segurança Pública e se posiciona frontalmente contrário à descriminalização das drogas. Tanto a questão do aborto quanto a das drogas aguardam julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
O resultado das eleições no Chile, que foram vencidas pelo ex-líder esquerdista Gabriel Boric, também reverberou na campanha de Moro. Aos 35 anos, Boric vai se tornar o nome mais jovem a assumir a presidência do Chile, derrotando o ultraconservador pinochetista José Antonio Kast, admirador de Bolsonaro.
“Levar um radical de direita para o segundo turno não é o melhor caminho. A sociedade, em geral, não tolera extremismos. Bolsonaro é mais radical que Kast. Se os evangélicos embarcarem no extremismo de direita, vão naufragar junto com Bolsonaro”, diz a VEJA o advogado Uziel Santana, coordenador do núcleo evangélico da campanha de Moro. No Chile, o voto não é obrigatório – e o peso do eleitorado evangélico é menor que no Brasil. Mesmo assim, o recado já foi dado.