Na banca de apostas de ministeriáveis, o nome do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), apareceu primeiro como possível indicado para o Ministério da Justiça do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois, como eventual escolhido para a pasta da Defesa. Por fim até para um posto diplomático no exterior. Interlocutores do magistrado, porém, detectam há semanas a origem – e as motivações dos rumores.
A primeira – e mais óbvia – é minar o nome do ministro em detrimento de políticos que de fato trabalham para integrar o primeiro escalão do governo que se inicia em 2023. Em especulações de cargos estratégicos, deixar o nome de um virtual indicado na chuva, como está acontecendo com Lewandowski, abre caminho para que outros candidatos negociem o posto diretamente com os detentores da decisão, sem os mesmos holofotes e desgastes de se submeterem a todo tempo ao escrutínio da opinião pública.
Um episódio que não passou batido a pessoas próximas do ministro foi o fato de que as primeiras hipóteses de que o magistrado poderia integrar o governo ocorreram no auge da troca de provocações e ofícios entre o Ministério da Defesa e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a auditoria das Forças Armadas nas urnas eletrônicas. Na ocasião, ventilar o nome de Lewandowski como ministeriável foi interpretado como um meio de atacar ainda mais a Justiça Eleitoral e a colocar sob suspeita de atuar em benefício do petista. Indicado ao STF em 2006 pelo próprio Lula, o ministro é o atual vice-presidente do TSE.
Uma eventual indicação do magistrado para um cargo executivo passaria pela intenção de ele antecipar sua aposentadoria no STF – em maio completa 75 anos e tem de deixar o tribunal. Se concordasse em integrar a Esplanada dos Ministérios, teria de adiantar em alguns meses a saída da Suprema Corte, o que ele já negou a integrantes do Supremo. Auxiliares e colegas do magistrado consultados por VEJA interpretam que, neste caso, ventilar a hipótese dele abreviar sua passagem pelo tribunal tem como objetivo associá-lo ao mesmo movimento feito pelo então juiz Sergio Moro, que deixou a vara da Lava-Jato em Curitiba e embarcou no governo de Jair Bolsonaro. Lewandowski é relator do caso que envolve o acervo de mensagens hackeadas de procuradores do petrolão que foi responsável por criar o ambiente político para considerar Moro parcial, anular as condenações de Lula e permitir que o petista voltasse ao jogo eleitoral.
Na segunda-feira 14, Ricardo Lewansdowski negou, em Nova York, a possibilidade de assumir o Ministério da Defesa. Em um segundo questionamento, porém, foi menos enfático e disse que, embora não tenha havido convite algum, “o futuro a Deus pertence”. Vindo do potencial ministeriável, um recado desses abre uma avenida para que, verdadeiros ou não, os rumores permaneçam mais vivos do que nunca.