A quarta-feira 2 de fevereiro foi um divisor de águas para a curta carreira política do ex-juiz Sergio Moro. Filiado há apenas três meses ao Podemos, Moro era o principal representante da terceira via e amealhava na época 10% das intenções de voto, posição que o consolidava na terceira colocação para a corrida presidencial. Embora alegasse sofrer sucessivos boicotes da cúpula partidária – em grande parte financeiros – Moro havia sido alertado semanas antes sobre suspeitas de corrupção contra dirigentes do partido e exigiu, naquele dia, a contratação de uma investigação interna para apurar supostas irregularidades, indícios de desvio de dinheiro público e uma série de desconfianças contra integrantes da legenda. Documento obtido por VEJA mostra que três senadores da sigla – Alvaro Dias, Oriovisto Guimarães e Flávio Arns –, todos do Paraná, endossaram a abertura da auditoria contra correligionários.
Embora tenham dado aval à investigação, que mirava, entre outros, a presidente do partido Renata Abreu (SP) e o secretário de Esportes do governo de São Paulo, Thiago Milhim, os três parlamentares se eximiram de participar da apresentação, no dia 26 de março, dos primeiros achados da auditoria. Um dos casos que chamou atenção dos investigadores foi o contrato que uma diretora do Podemos, dona de uma empresa de transportes, fechou com a prefeitura de Nova Granada (SP), região arco de influência de Renata e cidade onde Milhim construíra uma mansão. O valor do certame: 8,6 milhões de reais.
Os auditores não fazem nenhuma ilação envolvendo Renata Abreu, Thiago Milhim e o contrato milionário, mas recomendaram o aprofundamento das investigações. Antigos funcionários do Podemos, no entanto, já haviam procurado os “canais do partido” com informações complementares – e valiosas. Eles forneceram, em absoluto sigilo, dados sobre a atuação da sigla em supostas transações ilegais em prefeituras do estado de São Paulo, em contratos nas áreas de saúde, transporte e reciclagem de lixo e, com a proximidade da disputa eleitoral de outubro, na venda de palanques, situação em que correligionários cobram uma taxa para que políticos possam comparecer a atos de campanha ao lado de candidatos-celebridades. Sem a garantia de que nenhuma das suspeitas seria aprofundada, Sergio Moro deixou o Podemos em 31 de março e migrou para o União Brasil.
Procurado, Moro disse a VEJA que “o resultado preliminar indicou a necessidade de aprofundamento, em face de sólidos indícios (de corrupção). O assunto era de conhecimento da alta direção do Podemos e de lideranças como o senador Alvaro Dias, que decidiram não tomar qualquer medida após o resultado preliminar. Essa é a principal razão que me levou a sair do partido”. Em nota, o Podemos informou que “o partido é o primeiro do País a implantar um sistema de compliance em sua gestão. Uma das fases do programa era justamente a contratação de uma auditoria interna. Trata-se, portanto, de um processo padrão para aprimoramento da administração partidária, avaliação de caráter geral demandada pela própria direção do partido a partir do compliance”. “Eu não participo da burocracia partidária, confio na presidente e nos seus esclarecimentos”, afirmou Alvaro Dias. O advogado Salim Saud Neto, cujo escritório havia sido contratado para a auditoria, declarou que o sigilo profissional o impede de comentar o caso.