Quem conhece bem os desafetos históricos Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros (MDB-AL), senador de quatro mandatos, tem a convicção de que apenas o presidente Lula, a depender de interesses políticos, poderia amainar as rusgas entre os caciques e, em uma costura contemporizadora, apontar os dois como candidatos do governo às duas cadeiras ao Senado por Alagoas em 2026.
Em meados do ano passado, o presidente fez uma primeira aproximação e consultou um dos interlocutores mais próximos de Renan para saber se o senador, a pedido do próprio Lula, poderia procurar Lira para um aceno de apaziguamento. O aliado respondeu que, se o petista pedisse expressamente a Calheiros, ele, sim, procuraria o adversário. Lula, no entanto, nunca mais tocou no assunto.
Com o avanço das articulações políticas para a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar responsabilidades no desabamento de parte de Maceió como resultado da exploração de sal-gema, no início do ano o presidente deu sinais trocados e insuflou, nos bastidores, que Arthur Lira e Renan Calheiros desqualificassem um ao outro e imputassem responsabilidades ao desafeto pelo desastre. Com a comissão instalada, Calheiros, que trabalhava para ser o relator dos trabalhos, deixou o colegiado após a escolha do petista Rogério Carvalho (SE) para o posto. Hoje a CPI da Braskem atua de forma esvaziada.
Na sexta, 10, em um terceiro movimento, Lula prestigiou Lira e o ministro dos Transportes Renan Filho, primogênito do senador, durante a cerimônia de entrega de 914 apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida em Maceió. No dia anterior, em São José da Tapera (AL), o presidente já havia atribuído ao deputado papel importante na viabilidade do governo atual pela atuação na aprovação da emenda constitucional que destravou recursos para o início do terceiro mandato do petista.
Em meio ao vai-e-vem de Lula, interlocutores que acompanham o flerte do presidente dizem que, no mundo ideal, Arthur Lira até poderia compor com o desafeto para que ambos sejam eleitos senadores em 2026. Mas avaliam que se o fizesse desde já, faltando oito meses para deixar a Presidência da Câmara, perderia boa parte da força política que faz dele um ator que, votação sim, outra também, precisa ser procurado pelo Palácio do Planalto para negociar.
Renan Calheiros sabe disso. Lula também.