Durante a reta final da campanha presidencial, cada pesquisa de intenção de voto que apontava Jair Bolsonaro à frente de Fernando Haddad produzia uma alta na bolsa de valores. Consultas realizadas à época com o empresariado brasileiro também mostravam uma clara preferência pelo capitão reformado do Exército. O dia seguinte ao de sua eleição foi de recorde do Índice Bovespa, e até o início de março a euforia do mercado financeiro só cresceu.
A semana passada parece ter acabado com o humor dos investidores. O aparente desinteresse do presidente em liderar a negociação da reforma da Previdência no Congresso e os sinais de irritação da Câmara dos Deputados com o Planalto fizeram da quarta-feira 27 um dos piores dias do pregão desde a greve dos caminhoneiros, com uma queda de 3,57%. Se há duas semanas a Faria Lima festejava os inéditos 100 000 pontos da bolsa, na quarta o índice ficou abaixo dos 92 000, enquanto a cotação do dólar decolou e chegou a 3,95 reais, seu valor mais alto em seis meses.
O temor do mercado é que a reforma da Previdência seja desfigurada, e que não consiga gerar a economia de 1 trilhão de reais num período de dez anos anunciada pelo ministro Paulo Guedes. Consultorias ouvidas por VEJA ainda acreditam que a proposta será aprovada, mas bem aquém do prometido, com um corte entre 400 bilhões e 600 bilhões de reais nos gastos da próxima década. “A reforma tende a passar, mas desidratada e a despeito do presidente, que parece não a querer”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Ele resiste a entender que o Congresso faz parte do jogo, apesar de ter estado quase trinta anos lá.” Um mês atrás, a expectativa média dos analistas era que o Brasil crescesse 2,5% neste ano. Segundo o Banco Central, que recolhe as previsões, a projeção agora caiu para 2%.
Uma série de pesquisas com empresários mostra que a confiança está afundando também na chamada “economia real”. O Índice de Confiança do Consumidor, auferido mensalmente pela Fundação Getulio Vargas, desceu em março a seu menor nível desde outubro, e a confiança dos comerciantes e industriais recuou igualmente. “A dificuldade na coordenação política não é ruim só porque a Previdência não anda, mas porque nada mais anda no governo. Aí aumentam os juros de longo prazo, o que diminui o crédito, e isso mina os investimentos”, diz José Augusto Fernandes, diretor da Confederação Nacional da Indústria.
Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br