Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

O futuro do projeto político da Igreja Universal após derrota de Crivella

O golpe nos sonhos de poder foi duro. Mas, na contagem geral, seu partido, o Republicanos, sai fortalecido

Por Cássio Bruno, Ricardo Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 14h02 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Fechadas as urnas, o Republicanos, partido político que pede a bênção à Igreja Universal do Reino de Deus, teve motivo para erguer as mãos para o céu. Mobilizando o eleitorado evangélico e acolhendo lideranças regionais promissoras, a legenda conquistou 211 prefeituras, o dobro do que tinha, entre elas as de Sorocaba e Campinas, importantes polos econômicos do interior de São Paulo, e a de Vitória, capital do Espírito Santo, onde Delegado Pazolini, deputado estadual de primeiro mandato, derrotou o petista João Coser. Com esse capital, o Republicanos entrou para o time dos dez partidos mais influentes do país, mas nem tudo na estratégia deu certo. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella foi derrotado por Eduardo Paes e a sigla da Universal, além de perder o comando da segunda maior cidade brasileira, ainda viu seu político mais conhecido ser fragorosamente rejeitado pelos eleitores cariocas.

    Sobrinho de Edir Macedo, líder máximo e vitalício da IURD, o bispo licenciado Crivella foi forjado para ser o rosto político da igreja. Sob a tutela do tio poderoso, obteve vitórias sucessivas nas urnas. Conquistou uma cadeira no Senado, ganhou um ministério no governo de Dilma Rousseff (da Pesca, mas ministério mesmo assim) e conquistou a prefeitura do Rio. Nos bastidores da igreja, esperava-se que, a partir dessa vitrine, Crivella alçasse voo e concretizasse o sonho do bispo Macedo — expresso em livro — de eleger o primeiro presidente da República evangélico do país. A cruzada ia tão bem que ninguém se preocupou em preparar um plano B. Deu no que deu: quatro anos de gestão desastrosa, marcada pelo aparelhamento dos órgãos da prefeitura por obreiros da igreja e ainda pela contratação de funcionários pagos com dinheiro público para afugentar equipes de reportagem que denunciavam os desmandos na área da saúde, os “Guardiões do Crivella” — e o bispo fora da vida pública, ao menos temporariamente.

    O futuro do prefeito que sai é incerto. Uma ala do partido quer que ele volte às pregações nas madrugadas da Rede Record, para não perder contato com o eleitorado. Outra prefere que ele utilize o capital político restante — nada desprezíveis 913 700 votos — para se eleger deputado federal daqui a dois anos. Por que deputado federal? Porque Crivella tem potencial para puxar votos e ampliar a bancada do Republicanos e, ao mesmo tempo, porque o partido fica, assim, à vontade para apoiar outra candidatura ao Senado — quem sabe a de Hamilton Mourão (PRTB), que, ao que tudo indica, não será novamente vice de Jair Bolsonaro. “O que mais importa para o Republicanos a partir de agora é aumentar a bancada federal, para ter mais tempo de propaganda eleitoral e um fundo partidário mais recheado”, afirma um aliado do grupo de Edir Macedo.

    SEM PERDÃO - Crivella: má gestão na prefeitura estraçalhou sua vitrine política -
    SEM PERDÃO - Crivella: má gestão na prefeitura estraçalhou sua vitrine política – (Gabriel de Paiva/Agência O Globo)

    A dificuldade de ungir rapidamente um “novo Crivella” passa pela formação do Republicanos, partido que, embora sustentado por fiéis e pastores da Universal, abarca políticos de outras igrejas e até gente sem filiação religiosa. A relação é de troca: o Republicanos oferece a fidelidade de um rebanho de quase 2 milhões de pessoas e toma conta das máquinas administrativas dos municípios. Fica difícil, nesse contexto, encontrar figuras carismáticas, com potencial de se destacar na multidão, e, ao mesmo tempo, de confiança da cúpula. Enquanto o partido busca alternativas e espera a poeira anti-Crivella baixar, a ordem é focar as batalhas do presente.

    Continua após a publicidade

    Como bom representante do pragmático Centrão, o Republicanos negocia seu apoio à reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. A relação entre o presidente e o partido do bispo Macedo já teve dias melhores. A campanha de Crivella avalia que o apoio político vindo do Planalto foi tímido — resumiu-se a um vídeo em que Bolsonaro afirma que conhece o prefeito há muito tempo. Isso não impediu que o bispo o agraciasse com o título de “herói vivo” no discurso em que reconheceu a derrota.

    Outro ponto de atrito envolve a sucessão na chefia da Câmara dos Deputados, no início do ano que vem. A bancada evangélica esperava emplacar o nome do presidente nacional do Republicanos e bispo licenciado da IURD, Marcos Pereira, mas o Planalto deve chancelar Arthur Lira (PP). Inconformado, Pereira chegou a afirmar que o Republicanos não abrigará o presidente da República, atualmente sem partido, porque não aceita perder o controle da legenda, mas a ameaça não tem muita substância. O Republicanos permanece, sim, sendo uma opção para Bolsonaro — até porque dois de seus filhos, o vereador Carlos e o senador Flávio, são filiados a ele. “A derrota de Crivella fez a Universal voltar algumas casas no jogo, mas a igreja continua forte politicamente”, avalia Lívia Reis, cientista social do Instituto de Estudos da Religião e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E as preces do bispo Macedo pela eleição do primeiro presidente evangélico seguem firmes e fortes.

    Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.