Há um mês, um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro deixou suas casas para viver uma rotina insólita. Desde o resultado do segundo turno, eles moram em frente a quartéis militares de diversos cantos do país, comem em bandejões improvisados, dormem dentro de barracas, tomam sol e chuva enquanto gritam palavras de ordem. Ainda não há um líder desse movimento nem se sabe quem financia toda a estrutura – e sequer a pauta dos manifestantes está bem definida. Mas uma coisa é certa: ao pedir “socorro” às Forças Armadas – ou, mais claramente, um golpe -, o grupo espera que as tropas intervenham e impeçam a posse de Lula na Presidência da República, marcada para 1º de janeiro.
Do lado de dentro dos quartéis, militares de alta patente, mesmo os aliados a Bolsonaro, têm evitado qualquer tom alarmista. Ao contrário. Rejeitando o pleiteado golpe, eles já enviaram recados à equipe de transição do governo Lula que, apesar do desconforto em bater continência ao petista, não haverá nenhum tipo de insubordinação. Um contragolpe bem-vindo e que, portanto, trouxe alívio.
Em busca de aparar as arestas, Lula alçou um general reformado de sua estrita confiança para tentar estabelecer uma reaproximação com os militares. Marco Edson Gonçalves Dias, o “G. Dias”, tem sido uma das principais pontes do petista para tratar sobre a Defesa. O “general do Lula”, como era chamado durante os 8 anos em que cuidou da segurança do então presidente, passou a ajudar na coleta de impressões entre militares bolsonaristas sobre a possibilidade de qualquer percalço para a posse e o mandato do petista. Recebeu, do outro lado, um aceno de paz e o recado de que não há nenhum plano que justifique um estado de tensão.
Para ajudar a arrefecer os ânimos e evitar informações desencontradas, o comandante do Exército, general Marco Antônio Gomes Freire, também avisou que reforçou uma ordem interna determinando um silêncio total na caserna – em geral, militares são orientados a não falar sobre política, mas, como se sabe, nem sempre a determinação é seguida.
Conforme mostra reportagem de VEJA desta edição, Lula tem dedicado especial atenção para a relação que manterá com as tropas em seu próximo governo. Enquanto já indicou mais de 400 nomes para compor a transição, Lula impôs maior restrição ao grupo técnico que vai discutir a Defesa. O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin chegou a dizer que divulgaria o time na esteira das indicações dos outros setores, mas o anúncio acabou sofrendo sucessivos adiamentos.
Agora, a ideia é que os nomes do próximo ministro e dos comandantes sejam divulgados antes, e eles próprios assumam a responsabilidade de tocar o processo. Na última semana, o ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Múcio entrou na bolsa de apostas e é tido como o principal cotado para assumir o Ministério da Defesa.