Após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desdenhar da suspensão pelo governo da Alemanha do envio de dinheiro para a conservação da Amazônia, sugerindo à chanceler Angela Merkel que ela utilizasse a verba em seu país, a embaixada alemã no Brasil divulgou um vídeo respondendo — ainda que indiretamente — à fala do presidente. “Você sabia que a Alemanha é um dos países mais florestados da Europa? As florestas alemãs são destinos turísticos imperdíveis”, escreveu o órgão em sua conta no Facebook.
“A área das florestas alemãs cresceu em mais de 1 milhão de hectares nas últimas 5 décadas e cobrem 1/3 da área nacional”, informa o vídeo, que já conta mais de oito mil compartilhamentos — e não cita o nome do presidente. O vídeo também mostra imagens da fauna, da flora e das atrações turísticas da Floresta Negra, do Parque Nacional de Jasmund, do Parque Nacional da Suiça Saxônica e de outros parques nacionais.
A reação oficial foi bem mais comedida se comparada ao que fez o programa humorístico Extra 3, do canal público ARD, transmitido na noite desta quinta-feira, 15. A atração não poupou as críticas ao presidente Bolsonaro. Durante cinco minutos da transmissão, apresentada por Christian Ehring, ele foi ridicularizado por sua política ambiental e o desmatamento na Amazônia. Em uma das imagens, Bolsonaro aparece trajando a emblemática sunga do personagem ficcional Borat, acompanhado dos escritos “Idiota de Ipanema” (Depp von Ipanema).
O programa também fez uma paródia, intitulada “A música de Bolsonaro” (Der Bolsonaro-Song), que intercala imagens do presidente brasileiro portando armas de fogo, ao lado do Exército e rindo durante a posse do cargo, com cenas de imagens de árvores sendo cortadas, de queimadas na Floresta Amazônia e de atividades agrícolas. “Desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu significativamente e pode continuar aumentando a longo prazo”, diz a música, após aparecer uma montagem de Bolsonaro como um bobo da corte, segurando uma garrafa de pesticida.
Reportagem de capa de VEJA desta semana mostra que as ações do governo Bolsonaro em temas como o desmatamento da Amazônia arranham a imagem do país e podem gerar perdas na economia. VEJA também mostrou em imagens o antes e o depois das maiores áreas desmatadas entre janeiro e março deste ano. Visto de cima, o resultado dá feições ainda mais dramáticos do que os números que o presidente chamou de “mentirosos”.
A ministra do Meio Ambiente alemã Svenja Schulze, em entrevista ao jornal Tagesspiegel, anunciou que, diante do aumento do desmatamento, o país irá congelar projetos de proteção florestal na região amazônica. O valor total é de 155 milhões de reais, montante que não se refere à parcela da Alemanha do Fundo Amazônia. O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha financiava projetos para a proteção da floresta e da biodiversidade.
“A política do governo brasileiro na região amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento”, declarou a ministra ao jornal alemão, apontando que somente quando houver clareza, a cooperação de projetos poderá continuar.” afirmou.