O general Júlio César de Arruda perdeu o cargo de comandante do Exército devido à sua insistência em manter a efetivação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, como chefe do 1‘ Batalhão de Ações e Comandos. Como o presidente Lula deixou claro que não aceitava a ascensão do bolsonarista e Arruda não dava sinais de que recuaria, houve a demissão.
Além do que foi classificado como quebra de confiança, já que o presidente é o comandante supremo das Forças Armadas e suas ordens têm de ser cumpridas, outro ingrediente contribuiu para a queda de Arruda. Horas antes de ser demitido, o general e outros integrantes da cúpula militar receberam a informação de que haveria uma operação da Polícia Federal contra Cid, determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Falava-se em busca e apreensão na casa do tenente-coronel e até mesmo em prisão dele.
Cid mora numa área conhecida como fazendinha, um condomínio exclusivo para oficiais-generais, mas que conta com uma espécie de puxadinho transformado em moradia para outros poucos privilegiados. Ao saber da possibilidade de uma operação no local, Arruda, que também mora na fazendinha, avisou colegas e também Múcio de que a Polícia Federal seria impedida de entrar no condomínio e cumprir qualquer tarefa designada por Alexandre de Moraes. “Ninguém mexe com ele aqui” e “Ninguém tira ele daqui” foram alguns de seus rompantes, conforme relato de diferentes fontes.
A VEJA, um general que pediu para não ser identificado alegou que não se tratava de uma ameaça de confronto, mas de um alerta para a necessidade de uma ação combinada entre as partes. Qualquer operação da PF teria de ser informada previamente à inteligência do Exército a fim de evitar o que ele chamou de “mal-estar”, como o que ocorreu no mês passado, quando policiais à paisana foram ao quartel-general sem avisar, prenderam um manifestante e, cercados, só conseguiram se desvencilhar da multidão, que pensou se tratar de um sequestro, depois da intervenção de soldados.
Segundo o mesmo general, os militares consideram ter autonomia sobre as áreas que ocupam, incluindo a tal fazendinha. Esse entendimento explicaria a posição de Arruda e do chefe do Comando Militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra de Menezes, de não aceitarem que a Polícia Militar entrasse no acampamento dos bolsonaristas no QG do Exército, ainda na noite do fatídico 8 de janeiro, para prender radicais que participaram dos ataques às sedes dos Três Poderes.
Na ocasião, o general Dutra chegou a afirmar para o interventor na área de segurança do Distrito Federal, Ricardo Capelli, que poderia ocorrer um derramamento de sangue caso a polícia insistisse em efetuar prisões durante a noite. Houve acordo, e a desmobilização do acampamento ocorreu apenas na manhã seguinte.