O ex-presidente Lula criticou o governo interino de Michel Temer na noite desta sexta-feira, em São Paulo. Em um ato contra o peemedebista que reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista, o petista subiu ao palanque para defender a volta da presidente afastada Dilma Rousseff e atacar as primeiras medidas da gestão Temer. Enrolado da Lava Jato, Lula – talvez em uma solidariedade entre iguais – evitou tecer críticas às figuras-chave do governo interino que também estão às voltas com o petrolão.
No discurso, o petista provocou Temer, desafiando o peemedebista a permitir o retorno de Dilma e a se candidatar em 2018. Lula disse ainda que Temer não foi correto ao assumir o poder: “Não queria dizer ‘Fora Temer’, pois, para mim, não fica bem. Mas, Temer, você, um advogado constitucionalista, sabe que não agiu corretamente ao assumir interinamente a Presidência”.
Lula falou por mais de 30 minutos e recorreu à figura dos pobres para defender a volta de Dilma. “Deram golpe na Dilma, mas só o povo que a elegeu é que tinha esse direito”, disse ele. Em tom de bravata, sugeriu a extinção da pasta da Fazenda ao criticar o enxugamento ministerial do presidente interino. “Se a solução nesse país fosse diminuir ministérios, era melhor tirar os ministérios da Fazenda e do Planejamento e deixar o dos pobres”, afirmou. Na reforma de Temer, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos passou a fazer parte do da Justiça.
Retomando um velho discurso petista, Lula acusou o governo interino de “só saber privatizar”. “Essa gente, se não tomar cuidado, quanto tiver problema dentro de casa, vende até a mulher e a família”, ironizou. “Eles só sabem privatizar, e, para isso, não precisa ter governo, só agiota.”
Temer, porém, não foi o único alvo de Lula. O ex-presidente também não poupou críticas ao novo ministro das Relações Exteriores, o tucano José Serra, que pouco depois de assumir deu duras declarações contra os governos bolivarianos que questionaram a legitimidade do impeachment. Para Lula, Serra é o responsável pela volta do “complexo de vira-lata do brasileiro”. “Digo ao Serra e aos que tem complexo de vira-lata: aprendi que não somos respeitados por sermos rico, grandes, termos bomba atômica ou qualquer outra coisa. Os Estados Unidos seriam mais respeitados se, em vez de poderosos, fossem generosos e tratassem melhor o pobre.”
Como de praxe, ele não poupou ataques à imprensa livre, atacando o que chamou de “vazamentos ilícitos”. “Eles querem condenar por manchete e não por julgamento”, disse. “Estou de saco cheio de que eles digam que o dinheiro que financia o PT é sujo. Só falta dizerem que o dinheiro dos tucanos é da Sacristia”, debochou. Em seguida, desafiou: “Quanto mais me provocarem mais eu corro o risco de ser candidato em 2018”, bradou, aos gritos de “Volta Lula”.
Protestos – Em São Paulo, o ato foi organizado pelos movimentos Brasil Popular e Povo Sem Medo,e reuniu entidades ligadas ao PT, PCdoB e partidos de extrema esquerda. Entre eles, os principais são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Outras 12 capitais, além do Distrito Federal, também tiveram manifestações contra Temer.
(Da redação)