Moro: ‘Não posso saber se diálogos são autênticos, pois não publicam tudo’
Ministro nega qualquer comportamento impróprio e diz que não se afastará do cargo; para ele, vazamentos são um "crime em andamento" que mira as instituições
Cinco dias após a reportagem do site The Intercept que expôs mensagens atribuídas a ele próprio e a outros operadores da Lava Jato, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, comentou o caso em entrevista para o site do jornal O Estado de S. Paulo, nesta quinta-feira 13. Moro reforçou que não vê ilegalidade em suas condutas nos trechos divulgados, mas levanta a hipótese de que falas tenham sido editadas.
“Eu fico numa situação delicada porque eu não posso reconhecer a autenticidade dessas mensagens, porque é assim, em vez de eles apresentarem tudo, e que a gente possa verificar a integridade desse material, eles estão com essa ideia de apresentar paulatinamente. E eu não excluo a possibilidade de serem inseridos trechos modificados, porque eles não se dignaram nem sequer a apresentar o material a autoridades independentes para verificação”, declarou.
“Alguns diálogos, algumas mensagens lá me causam bastante estranheza. Não sei, por exemplo, como é que atribuíram aquelas mensagens a Moro, de onde que veio isso, esse Moro, da onde que veio o Deltan. Eu vejo nas mensagens lá que às vezes está Deltan e às vezes está Dallagnol. Então, como é que foi isso? Aquele material não é o material original? Será que não teve outra coisa que foi editada ali dentro?”, questionou em outro momento.
O ministro acredita que novos trechos ainda devem ser publicados, mas afirmou que se sente “absolutamente tranquilo” quanto a suas comunicações enquanto juiz. Para ele, o caso pode ser classificado como um “crime em andamento” e que não mira apenas a Lava Jato, mas as instituições em geral.
“Tem muita gente que quer fazer tudo para acabar com a operação [Lava Jato]. E conseguiram [com os vazamentos], aparentemente, gerar um sensacionalismo com base em ataques criminosos de hackers. Mas eu acho que, olhando mais a fundo, os alvos são as instituições”, disse o ministro.
Na visão de Moro, as evidências de que agiu em conluio com o Ministério Público durante a operação, em contato direto com o procurador Deltan Dallagnol não representam uma violão.
“É uma dinâmica dentro da 13.ª Vara Federal [em Curitiba], o dia inteiro proferindo decisão urgente. E a gente recebia procurador, advogado, a gente falava com advogado, falava com todo mundo. E, eventualmente, utilizava aplicativos de mensagem para tratar isso de maneira dinâmica maior. Mas, quanto à natureza das minhas comunicações, estou absolutamente tranquilo”, disse o ministro, que em supostos diálogos aparentou orientar Dallagnol sobre as investigações.
Ele nega que tenha dado “dicas” ao procurador, mas não nega ter repassado eventuais informações.
“Às vezes as pessoas tinham como referência a 13.ª Vara e o juiz, no meu caso, e levavam todo tipo de informação, de demanda. Então, as pessoas ouviam histórias verdadeiras, plausíveis e, às vezes, histórias fantasiosas. E, muitas vezes, em vez de levar ao Ministério Público, levavam a mim. O que a gente fazia? A gente mandava para o Ministério Público. Mandava normalmente pelos meios formais, mas, às vezes, existia uma situação da dinâmica ali do dia, naquela correria, e enviava por mensagem”, alegou Moro, que ponderou: “Sei que tem outros países que têm práticas mais restritas, mas a tradição jurídica brasileira não impede o contato pessoal e essas conversas entre juízes, advogados, delegados e procuradores”.
Após o posicionamento de algumas entidades que sugeriram seu afastamento, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Moro afastou a possibilidade.
“Não [pretendo me afastar], eu me afastaria se houvesse uma situação que levasse à conclusão de que tenha havido um comportamento impróprio da minha parte. Acho que é o contrário. Agora estou em uma outra situação, estou como ministro da Justiça, não mais como juiz, mas tudo o que eu fiz naquele período foi resultado de um trabalho difícil. E nós sempre agimos ali estritamente conforme a lei. Qualquer situação, despido o sensacionalismo, está dentro da legalidade. Conversar com procuradores, conversar com advogados, isso é absolutamente normal”, avaliou.