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‘Meu nome é doce’, diz Romero Jucá

Medalhão do Senado que não se reelegeu, emedebista diz que não teme a Lava-Jato e que atuará na iniciativa privada para 'resolver problemas'

Por Ana Clara Costa
15 fev 2019, 19h11
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  • Romero Jucá trabalha. Foi líder de todos os governos no Senado desde Fernando Henrique Cardoso (exceto nos três anos derradeiros de Dilma) e por seu gabinete passaram as mais importantes pautas econômicas votadas no Congresso – cujo relato, em muitas dessas ocasiões, era ele mesmo. Mas não se reelegeu em 2018. Alvejado pela Lava-Jato por suspeitas sobre as motivações de sua eficiência legislativa (ele é investigado em cinco inquéritos) e tirado do ministério de Temer depois que veio a público sua já célebre máximo contra a Lava Jato – “é preciso estancar a sangria” –, o atual presidente do MDB deixa o Congresso, mas não a política. Montará uma consultoria de “inteligência governamental” e diz que tentará imprimir em seu partido a imagem de celeiro econômico, não mais fisiológico. Sinal do lastro técnico do MDB, diz Jucá, é o fato de Bolsonaro ter mantido nomes ligados à sigla. “São pessoas técnicas, experientes e que contribuem com o país. Um governo, para mudar, não precisa mudar todas as pessoas”, diz.

    O senador Renan Calheiros disse que o senhor não se reelegeu porque está associado ao governo de Michel Temer. Concorda? Não. Além de todo o ataque da Lava-Jato, que pesou, eu tive um problema conjuntural grave que foi a invasão dos venezuelanos em Roraima. Os adversários me culparam por isso e muita gente acreditou.

    O que o senhor chama de “ataque da Lava-Jato”? Eu apoiei a Lava-Jato, acho que ela mudou o paradigma da política no Brasil. Agora, a Lava-Jato agiu de forma irresponsável em várias situações. É como se fosse um “dano colateral”, que vai matar dez ou vinte, mas o benefício fala mais alto. No meu caso, estou muito tranquilo porque eu confio no tempo e na investigação. Seis investigações que estavam no Supremo já foram arquivadas. Seis. Então basicamente o que foi dito? Que a doação oficial foi contrapartida de corrupção. Mas qual seria a contrapartida? Eu trabalhar aqui no Senado? Trabalhei aqui pelo Brasil todo, a economia do Brasil passou aqui. Ao fim dessa situação, e espero que seja rápido, eu vou ser reabilitado.

    O senhor acha que o arquivamento dos processos será compatível com a melhora da sua imagem pública? Não, porque o Jornal Nacional não vai colocar, para cada ação dessas, uma matéria de cinco minutos dizendo que ela foi arquivada. Mas, da minha parte, tenho certeza que vou me redimir.

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    Um dos inquéritos que foi arquivado foi o da delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. No entanto, o conteúdo da sua gravação, em que o senhor fala de um acordo nacional, “com Supremo e tudo”, transcende o arquivamento. Sim, mas aí é preciso enfrentar, e eu não tenho medo. Retirando essa gravação arranjada, eu fui líder, senador por 24 anos, e qual a acusação contra mim? Nenhuma. E olha que reviraram minha vida pelo avesso. Meu nome é doce. Quando alguém faz uma acusação, coloca “e Jucá”. Eu entro como reforço para chamar atenção. Mas eu estou tranquilo. E injustiça não me abala. Eu tenho um equilíbrio interior muito grande para me preocupar com o que as redes sociais estão falando.

    O MDB sempre foi um partido hegemônico e saiu das eleições enfraquecido e menor. Que lições podem ser tiradas dessa situação? O paradigma da disputa foi outro que não a política convencional. Todos os partidos convencionais foram derrotados. Mas nenhum com o poder do MDB. Tínhamos duas opções no governo do Michel: ou ser um governo que enfrentasse os dramas do Brasil, fizesse o que tinha que fazer para recuperar o país com medidas impopulares, ou um governo que visasse o crescimento do partido, a ampliação de suas bases, o ganho fácil de manter despesas altas, o tipo de prática que a gente herdou da Dilma. Estávamos na pior recessão da história, tínhamos uma situação de falência do Estado, uma perspectiva de desequilíbrio dos gastos públicos tremenda, sem saída.

    O MDB é conhecido como o partido da governabilidade e do fisiologismo. É possível reverter essa imagem? Era o modelo antigo, agora não é mais. Quem estava no governo indicava cargos. O MDB não quer indicar cargo. Não seremos o partido do cargo daqui para frente. Será o partido de quê? O partido dos economistas que deram certo, porque nós temos Henrique Meirelles. Por que a gente lançou a candidatura dele? Porque nós entendemos que para marcar a posição do MDB, era importante ter um candidato sintonizado com isso. Poderia haver espaço para essa discussão. Não houve, infelizmente. A eleição não teve conteúdo. Teve confronto, desconstrução, ataque. Qual é o modelo, dos dois que foram ao segundo turno, de previdência, de economia? A avaliação que se faz do governo do Michel, na parte técnica, operacional, propositiva, será cada vez mais positiva, não tenho dúvida. Em dois anos, fizemos algo inimaginável: acabamos com a recessão e fizemos o país crescer. Este ano, há uma perspectiva de crescimento de 2,5%, que é uma realização importante frente ao quadro do qual se saiu.

    É possível vender essa ideia de um novo MDB depois do fiasco na eleição da presidência do Senado? Eu defendi junto à bancada que a candidatura fosse da Simone Tebet. Com ela, haveria um entendimento mais amplo, e não o tipo de confronto que houve. Previ que o Renan não ia ficar jogando sozinho – o outro lado ia jogar também. Então, infelizmente, houve esse início de legislatura tumultuado, lamentável. Para o MDB foi uma derrota, mesmo que uma parte do partido não concordasse com a candidatura do Renan. A candidatura do Renan não foi defendida pelo partido como um todo, não foi pacífica.

    Depois de toda a confusão do primeiro dia da eleição no senado, que acabou em impasse, o senhor pediu para Renan recuar? Só caberia a ele retirar a candidatura. O partido não podia fazer um ato de força. Recuar tem de ser um ato individual. Ele achou que tinha os votos, mas não tinha. No início, até tinha, mas então houve uma reação contrária – um movimento contra o Renan, e não a favor de uma outra candidatura.

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    Renan foi inábil? Eu preferia o velho Renan experiente, comedido e cuidadoso, ao novo Renan, mais açodado.

    O senhor teria conseguido impedir o fiasco se ainda estivesse no Senado? Poderia ter colaborado dentro da bancada no âmbito da primeira decisão equivocada, que levou a tudo isso: a candidatura do Renan.

    O novo MDB de que o senhor fala pode entrar para a base governista? Temos membros do MDB no governo Bolsonaro. Osmar Terra, Leonardo Quintão, e mais algumas pessoas que foram convidadas por questões técnicas e pessoais, não por indicação do partido. O governo Bolsonaro tem muita gente que foi do governo Temer porque essas pessoas são técnicas, experientes e contribuem com o país. Um governo, para mudar, não precisa mudar todas as pessoas. Ele muda quando muda a filosofia, o foco, a decisão política, a forma de se relacionar. Bolsonaro fez uma ruptura no modelo político pelo voto. Não houve golpe, ato de violência, houve uma ação que rompeu com o governo de coalizão. São rompimentos salutares para o novo momento da política brasileira. Defendo a posição com que Bolsonaro tem conduzido as coisas.

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    Que posição? De ter independência na formação técnica dos ministérios. Agora, acho que ele vai ter de transbordar o componente político que adotou na eleição. Ele não pode gastar o tempo dele em vão e precisa surpreender. Para fazer isso, precisa sair do quadrado dele e ir além das legiões e das falanges políticas que ele tem. Senão, governará para um segmento da população, e ele é presidente de todos.

    Qual é o maior desafio que se avizinha para o novo governo, na sua opinião? A relação com o Legislativo vai ter de ser construída. O que tem hoje nessa relação? Há um Legislativo abalado, um Executivo legitimado pelos votos, mas, ao mesmo tempo, premido pela condição fiscal muito difícil. E, no governo Bolsonaro, a economia vai precisar dar certo. E ele tem pouco tempo para apontar isso. Nós deixamos um caminho sinalizado, corrigido. Agora, cabe ao governo e a Paulo Guedes aprofundar.

    Antes do impeachment, o senhor dizia que um provável governo Temer deveria romper com “amarras ideológicas”. O senhor acha que isso acontecerá no governo Bolsonaro? O governo do Michel foi de centro liberal, que, em determinado momento ficou refém da Câmara. É um governo que optou por fazer reformas e ajustar o país. O Bolsonaro, na economia, apresenta viés liberal e está montando um governo de direita. A ideologia de direita foi um ponto alto na campanha do Bolsonaro. Mas ocorre que ele não construiu a ideologia com base em propostas, e sim contra os atos do PT. Agora, a ideologia vai ter de transcender. O Ministério de Relações Exteriores, por exemplo, precisa ouvir mais a tradição do Brasil e precisa ter cuidado, porque o Brasil é um país que tem relações comerciais com o mundo todo. Sem relações comerciais, sem exportações, não tem emprego.

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    O senhor ficou com Michel Temer até o fim. Como foi esse fim? Fiquei e fui com ele no avião de volta a São Paulo. Conversamos e ele estava muito bem humorado. Um pouco aliviado também. Acho que a injustiça, quando não mata, ensina a viver. O Michel cumpriu seu papel e vai ser reconhecido, no futuro, pelas ações de seu governo.

    E o senhor, o que pretende fazer? A gente faz política mudando de trincheira. Não preciso necessariamente ser senador. Por 426 votos eu deixei de ser senador. Assimilei. Respeito o resultado, e vou continuar trabalhando na política, ajudando o MDB. Mas vou viver minha vida um pouco mais com minha família. Porque tudo tem sido uma loucura em Brasília e em Roraima. Foram 24 anos como pronto-socorro, com problemas 24 horas por dia. Você sabe o que é passar vinte anos preocupado com a governabilidade, a economia, com as besteiras que o governo fazia?

    O senhor vai para a iniciativa privada? Vou dar consultoria, fazer um trabalho que chamo de “inteligência governamental”. Eu passei a minha vida resolvendo e montando solução para problema. E, agora, para empresa privada, vou montar solução também, no Executivo, no Legislativo e organizando projetos integrados. Tenho que trabalhar para sobreviver. Não sou uma pessoa rica. Quem olhar minha declaração do imposto de renda vai ver.

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