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Como foi o depoimento da médica Luana Araújo à CPI da Pandemia

A infectologista chegou a ser anunciada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mas nove dias depois a nomeação foi cancelada

Por Da Redação
Atualizado em 3 jun 2021, 05h46 - Publicado em 2 jun 2021, 07h22
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  • A médica infectologista Luana Araújo depôs nesta quarta-feira, 2, à CPI da Pandemia. No início de maio, seu nome chegou a ser anunciado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas a nomeação foi cancelada nove dias depois.

    O depoimento

    Questionada pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se havia discutido com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o chamado tratamento precoce, Luana negou e criticou o fato de neste momento da pandemia ainda insistirem em medicamento ineficazes contra a Covid-19. “Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. Todos nós somos absolutamente a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública”, afirmou. “Quando eu disse que nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu infelizmente ainda mantenho isso em vários aspectos. Porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente tivesse escolhendo de que borda da ‘Terra plana’ a gente vai pular. Não tem lógica”, acrescentou a infectologista.

    Sobre sua rápida passagem pelo Ministério da Saúde, interrompida ainda antes da nomeação oficial, Luana afirmou que questionou Queiroga se teria a autonomia necessária para agir na secretaria. O ministro, segundo ela, respondeu de forma “afirmativa e concreta”. O objetivo na pasta, acrescentou, seria coordenar os esforços do governo relativos à pandemia, auxiliar na interlocução com estados e municípios e com órgãos de saúde.

    Luana afirmou que não se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro durante a passagem e que seu contato direto era com o Queiroga e poucos assessores do ministro. Ela relatou que foi o chefe da pasta que comunicou, dias depois do início de seu trabalho na secretaria, que sua nomeação “não iria passar”. A médica não foi informada dos motivos. À própria CPI, Queiroga afirmou que a nomeação precisava de “validação técnica”, o que Luana já teria, mas também “validação política”, indicando que a Presidência não teria aprovado. Depois da indicação de Luana, bolsonaristas criticaram falas da infectologista contra o uso da cloroquina e o “tratamento precoce”, defendidos por Bolsonaro.

    Perguntada se considerava que sua saída da secretaria poderia ter a ver com um ‘aconselhamento paralelo’ ao presidente, Luana afirmou que não sabia dizer, porque “não teve informações sobre um aconselhamento paralelo” e não encontrou ninguém que pudesse fazer parte de um aconselhamento paralelo.

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    Ao comentar sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, Luana foi enfática: “Nós temos estudos de alta qualidade que mostram que existe um aumento da mortalidade com o uso da cloroquina e hidroxicloroquina. Quando a gente transforma isso em decisão pessoal é uma coisa. Quando transforma em política pública é outra”, afirmou, acrescentando sua opinião sobre a autonomia médica. “É preciso que a gente entenda uma coisa muito séria: autonomia médica faz parte da nossa prática, mas não é licença para experimentação. A autonomia precisa ser defendida com base em alguns pilares: da plausibilidade teórica, no volume de conhecimento científico acumulado até aquele momento sobre o assunto, da ética e da responsabilização. Quando você junta isso tudo você tem, sim, direito a sua autonomia e precisa fazer o que é melhor para o seu paciente. Mas não pode abrir mão deles em nome de qualquer coisa que seja.”

    Ao ser questionada sobre a estratégia de imunidade de rebanho que teria sido praticada pelo governo Bolsonaro, segundo um estudo da Universidade de São Paulo citado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), a médica afirmou que haveria lógica em tal postura se ela tivesse sido adotada “lá no começo, quando as evidências eram frágeis”. Luana, então, explicou que a Covid-19 se dá através de um vírus com base em material genético RNA e que, por isso, pode sofrer mutações com muita facilidade. Diante disso, a infectologista afirmou que imunidade de rebanho natural “é impossível de ser atingida” e “não é uma estratégia inteligente”. Luana acrescentou ainda que com a vacinação atinge-se a imunidade de rebanho “sem sofrimento” à população. “É muito estranho que a gente discuta esse tipo de coisa. Não tem lógica”, completou.

    Cronologia da indicação de Luana

    O Radar Econômico revelou que Luana entregou o cargo ao ministro porque não aceitou pressões vindas do Palácio do Planalto. Em audiência pública na Câmara dos Deputados na semana passada, Queiroga sinalizou uma possível interferência do presidente Bolsonaro no caso ao lembrar que vivemos em um regime presidencialista. A intenção da comissão é esclarecer o episódio.

    A CPI pretende ouvir Luana Araújo antes de uma nova oitiva com o ministro Queiroga, para conhecer a versão da infectologista sobre os motivos da mudança. A convocação da médica havia sido requerida pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Humberto Costa (PT-PE) logo após o anúncio do cancelamento da nomeação.

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    “Isso aconteceu muito recentemente e ainda há dúvidas sobre o que fez o governo, o Ministério da Saúde, ao não nomear efetivamente essa pessoa. Há rumores de que seria pelo fato de que ela questiona vários pontos da condução política que o governo tem dado ao enfrentamento da pandemia”, disse Humberto.

    No evento de 12 de maio em que sua nomeação foi anunciada, Luana Araújo disse que iria “coordenar a resposta nacional à Covid-19, em diálogo permanente com todos os atores”. Dez dias depois, em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a pasta buscava “outro nome com perfil profissional semelhante: técnico e baseado em evidências científicas”.

    A princípio, estava prevista para esta quarta uma audiência pública para ouvir médicos e pesquisadores contra e a favor do uso de drogas como a cloroquina no chamado tratamento precoce contra a Covid-19. Mas o depoimento de Luana foi antecipado devido à urgência do tema.

    (Com Agência Senado)

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