Treinado para se apresentar como um político com projetos para além da pauta anticorrupção que lhe deu notoriedade, Sergio Moro tem sido submetido a um intenso media training para perder a sisudez, mas ainda está longe do ideal. A avaliação é de seus conselheiros dentro do partido de centro-direita Podemos, ao qual se filiou na quarta-feira, 10. Em uma escala de zero a dez, recebeu até agora a nota quatro da equipe que cuida de sua imagem.
Às vésperas do evento que marcou sua entrada na corrida presidencial, Moro passou quatro horas treinando postura e afiando o discurso. Gravou vídeos na Praça dos Três Poderes com o Palácio do Planalto ao fundo e, em outras tomadas, caminhando rumo ao local de trabalho do presidente da República. A mensagem subliminar não poderia ser mais clara: a marcha em direção ao Planalto partia do Supremo Tribunal Federal (STF), corte para onde o ex-juiz gostaria de ter sido indicado por Jair Bolsonaro e que, segundo o presidente declarou em depoimento à Polícia Federal, teria sido a moeda de troca apresentada por Moro quando o chefe do Executivo decidiu mudar a cúpula da PF.
Nas reuniões para a montagem dos temas de seu primeiro discurso como pré-candidato, Sergio Moro disse que o slogan da pré-campanha tinha de ter a expressão “ser justo” e, ao vê-la endossada de pronto pelo marqueteiro Fernando Vieira, tentou descontrair: “se tudo der errado vou ser marqueteiro”. Brincadeiras à parte, a equipe de Moro explicou a ele que não deve apresentá-lo ao público como um personagem que destoe completamente do estilo do ex-juiz e citou a campanha à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff como caso a ser evitado. Para os moristas, a petista foi moldada como um exemplo de gestão pela equipe do marqueteiro João Santana e apresentou um governo desastroso. Moro ouviu as explicações e tomou nota.
Um dos seus deveres de casa passados pela equipe de marketing era minimizar o risco de erros de dicção ao discursar no ato de filiação e tentar não suprimir sílabas das palavras, como ocorreu quando em um programa de televisão não conseguiu pronunciar adequadamente a palavra ‘cônjuge’ e virou motivo de chacota com sua versão: ‘conje’. Neste quesito, Moro passou raspando – e tropeçou em algumas expressões ao longo do discurso de filiação.
Superada a fase de treinamento, no evento montado na última semana para oficializar a entrada do ex-juiz da Lava-Jato na seara eleitoral, foi eloquente a demonstração de revanche da classe política às pretensões do ex-magistrado. Convidados a ladearem o novo presidenciável em seu ato de filiação, governadores e presidentes de legendas que, em tese, poderiam marchar juntos em um projeto de terceira via simplesmente não compareceram, e a primeira reunião política de Moro após o anúncio da pré-candidatura limitou-se a um encontro com prefeitos filiados ao Podemos em um hotel de Brasília. Um sinal de que no dia a dia da campanha as dificuldades mais prementes não poderão ser resolvidas com media training.