Mandetta pede oração e respeito à quarentena após demissão de Nelson Teich
Oncologista pediu exoneração ao ser pressionado por Bolsonaro para apoiar o uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves de coronavírus
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta repercutiu a demissão do seu substituto na pasta, Nelson Teich, com um pedido de orações. Em uma curta mensagem no Twitter, Mandetta reforçou que as pessoas devem respeitar o isolamento social e acreditar na ciência para combater a Covid-19.
“Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé! #FicaEmCasa”, escreveu Mandetta.
Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé! #FicaEmCasa
— Henrique Mandetta (@lhmandetta) May 15, 2020
Empossado no dia 17 de abril para substituir Mandetta, o oncologista Nelson Teich pediu exoneração nesta sexta-feira, 15, em função das pressões que vinha sofrendo por parte do presidente Jair Bolsonaro para apoiar o uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves de coronavírus, além de oficializar a flexibilização da quarentena.
Na quinta, 14, em reunião com empresários organizada pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, Bolsonaro disse que iria liberar o uso da cloroquina mesmo à revelia de Teich. O agora ex-ministro vinha sendo questionado por médicos que lhe cobravam coerência em relação ao remédio. Teich sempre condenou o uso de medicamentos sem comprovação científica, algo que ocorre com frequência em tratamentos de pacientes com câncer.
Mandetta foi demitido por Bolsonaro justamente por não aceitar imposições que contrariam as recomendações das autoridades sanitárias de todo o mundo, incluindo aquelas formuladas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para Mandetta, o presidente é leigo em relação ao uso da cloroquina e é influenciado por médicos que defendem o remédio para tratar pacientes com coronavírus. Em sua gestão, Mandetta atribuiu ao Conselho Federal de Medicina a responsabilidade por determinar o uso do medicamento. A entidade recomendou a administração apenas em casos graves e com o monitoramento dos sinais vitais. “Desconfio que muitas das mortes desses pacientes que ocorreram em casa se deram em função da arritmia provocada pela cloroquina, principalmente em pacientes idosos”, disse Mandetta, em declaração recente.
O mais cotado para assumir o cargo é o número 2 do Ministério da Saúde, general Eduardo Pazuello. Ele assumiu a secretaria-executiva em um processo de militarização da pasta iniciado pelo Palácio do Planalto após a posse de Teich. Outro nome cogitado é o do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que também é médico e tem se notabilizado como um ferrenho crítico da política de isolamento social. Terra é muito próximo a Bolsonaro, de quem foi ministro da Cidadania.