Mais renovado em duas décadas, novo Congresso terá perfil conservador
Líderes e partidos do status quo desidrataram e legendas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad polarizarão como as maiores bancadas da Câmara
O resultado que emergiu das eleições de 2018 mostrou uma forte rejeição aos partidos e políticos tradicionais e impôs uma ampla renovação aos quadros do Congresso Nacional. Na Câmara, 52,54% dos parlamentares não fazem parte da atual legislatura. No Senado, foi de 85,19%. Nessa toada, ficaram sem mandato caciques que marcaram a política brasileira nas últimas décadas, como Romero Jucá (MDB-RR), líder dos últimos quatro presidentes (FHC, Lula, Dilma e Temer) dentro do legislativo federal e o próprio presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB-CE).
Dessa aura de mudança, sobretudo pelos principais focos de alterações na composição, se extrai um avanço do pensamento conservador, com a disparada do PSL, cujo desempenho superou qualquer expectativa até mesmo da sua direção – que, em seus maiores sonhos, imaginava fazer até 30 deputados. Fez 52, movimentados por puxadores de voto em vários estados do país, com menção especial para o 1,8 milhão de votos recebido por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), que superou o recorde de Enéas Carneiro, do antigo Prona, e se tornou o deputado federal mais bem votado da história brasileira.
O fenômeno paulista, que ajudou a eleger para o Congresso nomes como a líder do movimento Nas Ruas, Carla Zambelli, os militares Coronel Tadeu e General Peternelli, o herdeiro da família real brasileira Luiz Phelipe de Orléans e Bragança e o ator Alexandre Frota, todos com discurso conservador em questões morais. O fenômeno também se repetiu em outros estados, como com as vitórias de Hélio Barbosa Lopes, o Hélio Bolsonaro (militar que pegou “emprestado” o nome do padrinho político), no Rio de Janeiro e de Marcelo Álvaro Antônio, reeleito em Minas Gerais com quatro vezes mais votos que em 2014.
No Senado, o PSL terá presença mais tímida, com apenas quatro dos 81 senadores, considerando que 27 dessas vagas foram preenchidas em 2014 e não eram disputáveis no pleito deste ano. No entanto, a legenda conseguiu superar quadros desfavoráveis e obter vitórias inesperadas em algumas disputas, caso do deputado Major Olímpio (SP), eleito senador em São Paulo em primeiro lugar, desbancando o favoritismo do vereador Eduardo Suplicy (PT), que terminou em terceiro e não foi eleito.
Deputado oriundo do chamado “baixo clero”, grupo de parlamentares que tradicionalmente possuíam menos incidência nas principais decisões do legislativo, Olímpio ganhou destaque ao disputar a Prefeitura de São Paulo, ainda pelo seu ex-partido Solidariedade, em 2016, e surfar na “onda Bolsonaro” no estado paulista, calcada em uma política mais forte de segurança pública e em conservadorismo moral.
Uma das principais armas de seus apoiadores na reta final da campanha, por exemplo, foi distribuir fotos da adversária Mara Gabrilli (PSDB) com o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que hoje é o único parlamentar homossexual assumido do Congresso Nacional. Mara também foi associada à legalização do aborto, proposta que ela não defende e que é cara ao eleitorado religioso.
Chama a atenção quando o assunto é o Senado também o desempenho da Rede Sustentabilidade, partido da ex-ministra Marina Silva, que elegeu cinco senadores, apesar de ter feito apenas um deputado federal. Como a Rede não atingiu a cláusula de desempenho mínimo, o partido ficará sem Fundo Partidário e propaganda no rádio e na televisão, o partido precisará repensar seus próximos passos e pode ver um ou mais desses parlamentares migrarem para outras legendas.
Na outra trincheira, o PT foi afetado pelo sentimento antipetista, sobretudo no Sul e no Sudeste, e despencou nos resultados eleitorais para o Senado. Em 2010 (as vagas na Casa são renovadas a cada oito anos), o partido elegeu onze senadores. Neste domingo 7, foram apenas quatro, com derrotas marcantes para a legenda, casos de Suplicy, Dilma e do atual senador Lindbergh Farias (RJ). Presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR) desistiu do Senado e se candidatou à Câmara para garantir um mandato no próximo ano.
Apesar disso, o partido do candidato Fernando Haddad conseguiu preservar a maior parte da sua representação na Câmara, sendo a maior bancada de deputados federais, com 56 no total (hoje são 61). Com a intensa queda do PSDB e do MDB, afetados pelos movimentos de migração de eleitores para partidos mais à direita e com discurso crítico ao sistema, o PT deve polarizar com o PSL pelo domínio na Câmara, a depender, em especial, de quem vencer o pleito do próximo dia 28.
Nesta equação, apesar de serem as maiores bancadas, as legendas só ocupam cerca de 10% das vagas na Câmara, sendo mais uma vez forçadas a negociações para governar. No caso de Bolsonaro, caso ele seja eleito, a expectativa é de agregar deputados não através de acertos com os comandos partidários, mas sim com acenos às pautas de grupos temáticos, como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a Frente Parlamentar Evangélica e a os parlamentares ligados à defesa da flexibilização do porte de armas – as bancadas “do boi, da bala e da bíblia”.
Caso reverta a vantagem, Haddad, por sua vez, teria mais dificuldade em governar, ao que tudo indica. Para o ex-prefeito, seria necessário retomar a estratégia dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), restabelecendo as relações políticas com os partidos do Centrão, que no primeiro turno apoiaram apenas formalmente Geraldo Alckmin (PSDB) e que desde o início se dividem em dois grandes blocos, fazendo campanha de acordo com conveniências regionais.