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Lula procura velhos caciques do MDB de olho em palanques para 2022

Ex-presidente se articula para tentar construir uma candidatura para além da esquerda na tentativa de voltar ao Palácio do Planalto

Por Edoardo Ghirotto Atualizado em 21 Maio 2021, 14h43 - Publicado em 21 Maio 2021, 06h00
REENCONTRO - Lula e José Sarney: os ex-presidentes foram aliados nos governos petistas -
REENCONTRO - Lula e José Sarney: os ex-presidentes foram aliados nos governos petistas – (Ricardo Stuckert/PT)

Depois de 580 dias preso, acusado de diversos crimes de corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva quer provar ao universo político e ao mercado financeiro que o “velho Lula” está de volta. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) o recolocou no tabuleiro eleitoral, o petista modulou o discurso para soar menos como um agitador de esquerda e mais como o presidente da República que governou o país por oito anos e conseguia dialogar com boa parte do espectro político e econômico. Para repor esse verniz à imagem, nada melhor do que se cercar dos velhos companheiros que o ajudaram no período em que comandou o país. Dentro dessa estratégia de reaproximação, que tem sido intensa e vai da Faria Lima a Brasília, uma legenda se destaca: o MDB.

Os primeiros alvos nessa empreitada foram quatro caciques com profundo conhecimento político, mas que, até recentemente, pareciam aposentados. O passo inicial foi dado numa longa ligação telefônica com Renan Calheiros (AL). Ambos chegaram à conclusão de que seria um erro se reunirem no momento em que o alagoano é o relator da CPI da Covid-19, que investiga os desmandos de Jair Bolsonaro na pandemia. Mas Renan prometeu se tornar o fiador desse reencontro de antigos aliados e incentivou Lula a estar pessoalmente com outros luminares que exercem grande influência na legenda e também em seus estados. Foi exatamente depois desse telefonema que o petista foi a Brasília se reunir com o ex-­presidente José Sarney (MA) e os ex-­presidentes do Senado Eunício Oliveira (CE) e Jader Barbalho (PA).

ANIMADO - Eunício Oliveira: o ex-presidente do Senado é um dos principais fiadores ao apoio a Lula dentro do MDB -
ANIMADO - Eunício Oliveira: o ex-presidente do Senado é um dos principais fiadores ao apoio a Lula dentro do MDB – (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Embora alguns ainda duvidem, Lula já se decidiu pela candidatura — e, na prática, está em campanha. O ex-­presidente sabe que o tempo joga a seu favor e tem sido cauteloso em todas as (dezenas de) conversas. Apesar de perguntar qual é a pretensão eleitoral de cada interlocutor, o petista não apresenta planos imediatos de aliança nem faz imposições para subir em palanques estaduais. Em primeiro lugar, ele agradece o que considera lealdade dos emedebistas no tempo em que esteve preso. Mesmo com o partido liderando o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, Lula nunca deixou a relação com esses velhos caciques se deteriorar. No momento, está tão interessado em reeditar a parceria que pediu para ser atualizado sobre como funciona o sistema de votação da executiva nacional do MDB e já mapeou quantos votos cada liderança possui.

Exercer influência nos palanques estaduais, no entanto, é a forma mais eficaz para Lula garantir apoio num partido que se comporta como uma federação cheia de divisões internas. Um acerto com Eunício minimizaria a influência de Ciro Gomes no Ceará, o principal reduto eleitoral do pedetista. Uma parceria com Jader colocaria Lula no palanque do governador do Pará, Helder Barbalho, que deve buscar a reeleição com o apoio da esquerda local. Já Sarney tem manifestado preferência por uma terceira via, mas dificilmente se aliaria a Bolsonaro num segundo turno contra o petista. A filha do ex-presidente, Roseana Sarney, deve sair candidata a deputada federal, endossando Lula. Nessas articulações, o petista se reaproximou do ex-ministro Edison Lobão, um personagem ainda influente no Maranhão, e mantém uma boa relação com o ex-­deputado Lúcio Vieira Lima, o principal mandachuva do MDB baiano e irmão do preso Geddel — ambos foram condenados por lavagem de dinheiro e associação criminosa no episódio da fortuna de 51 milhões de reais encontrada em um apartamento em Salvador em 2017.

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PALANQUE - Jader Barbalho: acerto com o senador incluiria o apoio de Lula à reeleição de Hélder Barbalho ao governo do Pará -
PALANQUE - Jader Barbalho: acerto com o senador incluiria o apoio de Lula à reeleição de Hélder Barbalho ao governo do Pará – (Edilson Rodrigues/Ag. Senado)

O ex-presidente também monitora as movimentações de emedebistas que preferem um nome de centro para 2022. O atual mandatário da legenda, Baleia Rossi (SP), planeja lançar uma pré-candidatura do partido à Presidência para ampliar o “valor de mercado” da sigla nas mesas de negociação. Um dos nomes cogitados para assumir esse papel é o da senadora Simone Tebet (MS), a mesma que foi abandonada pelo partido quando tentou disputar a presidência do Senado. Baleia também tentou filiar Luiz Henrique Mandetta (DEM), mas o ex-ministro da Saúde disse a pessoas próximas que só mudaria de sigla se fosse disputar o governo de Mato Grosso do Sul. Outra opção é se engajar na candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A questão é que há desconfiança entre os emedebistas sobre a viabilidade eleitoral do tucano. Junto ao DEM, o MDB já foi considerado parte de um tripé que daria sustentação nacional a Doria. Foi essa articulação que levou o partido a emplacar Ricardo Nunes como vice do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morto no dia 16 — o projeto virou pó com a recente briga que se instaurou entre o tucano e a cúpula do DEM. Consciente de que o MDB pode tomar qualquer direção, Baleia permanecerá comedido com as palavras e se esforçará para não se indispor com ninguém antes da hora.

LEIA TAMBÉM: Na contramão de Bolsonaro, Doria e Ciro, Lula vai submergir

Na linha de candidatura própria do MDB, um movimento mais tímido tenta convencer o ex-presidente Michel Temer a concorrer ao Planalto. Aos 80 anos, ele não tem demonstrado disposição para isso, mas voltou a articular nos bastidores para assegurar influência nas decisões. Temer tem liderado debates internos para preparar uma segunda versão de “Uma Ponte para o Futuro”, como ficou conhecido o documento de medidas que balizou o seu período no Palácio do Planalto. Emedebistas estão aproveitando o fracasso da gestão de Bolsonaro para defender o legado do ex-presidente, que contempla a aprovação do teto de gastos e da reforma trabalhista. Depois que deixou a Presidência, ele foi preso duas vezes acusado de corrupção, mas, na terça-­feira 18, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, anulou as decisões do juiz Marcelo Bretas, na Justiça Federal no Rio de Janeiro, e transferiu os processos do emedebista para Brasília.

DISCRIÇÃO - Baleia Rossi: o presidente do MDB apoia um projeto de centro, mas tem falado pouco sobre a eleição -
DISCRIÇÃO - Baleia Rossi: o presidente do MDB apoia um projeto de centro, mas tem falado pouco sobre a eleição – (Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

Foi com Temer, aliás, que o MDB alcançou o maior protagonismo nos últimos anos, quando ocupou não só a Presidência, mas também toda a linha de frente do governo, com nomes como Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel. Em 2018, com o partido atingido em cheio pela Lava-Jato, muitos dos políticos tradicionais da sigla foram varridos para fora do Congresso, incluindo Eunício, Jucá, Lobão e Garibaldi Alves (RN). Na eleição de 2020, novos tropeços foram colhidos pelos caciques. Eunício, por exemplo, não conseguiu eleger nem o prefeito de sua cidade natal, Lavras da Mangabeira (CE).

Enquanto investe pesado nos bastidores para se reconectar com esses antigos parceiros do MDB, Lula deve agir em público de forma bem mais discreta. Depois da agenda extensa em Brasília e do Datafolha que o coloca com 41% dos votos contra 23% de Bolsonaro, o petista pretende não banalizar suas aparições. Além das pesquisas, Lula tem a seu favor a disposição cada vez menor dos caciques do MDB para apoiar Bolsonaro num eventual segundo turno. Até mesmo o pernambucano Jarbas Vasconcelos, um histórico desafeto do PT, confidenciou a aliados que apertaria o 13 na urna para evitar a permanência de Bolsonaro. A direção do MDB em Pernambuco já até avisou ao líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, que não há a menor possibilidade de a sigla abrigar a candidatura do filho do senador, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, ao governo do estado.

A perspectiva de poder não só reaproxima velhos amigos como cura feridas. É verdade que o impeachment de Dilma em 2016 provocou desconfiança na militância petista em relação ao MDB — a acusação mais comum a Temer é de traição —, mas Lula e os caciques da sigla parecem dispostos a superar qualquer trauma em nome do retorno ao governo em 2022.

Publicado em VEJA de 26 de maio de 2021, edição nº 2739

+ ‘Lula é líder importante e deve ser candidato’, diz tucano Aloysio Nunes

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